Lá
No domingo a maioria dos portugueses disse, através do voto, que prefere a Coligação a governar mas que não quer um Governo obstinadamente austero, que não promova entendimentos e que decida sozinho. Escavando mais um pouco nos resultados, podemos até chegar à conclusão de que a maioria dos portugueses preferiria que o país virasse à Esquerda, mas não se conseguiu entender sobre que tipo de Esquerda. Diluindo o voto por esquerdas incompatíveis, os portugueses acabaram por tornar a Coligação na força política mais votada.
Em Democracia, isso significa que deve ser a Coligação a governar, respeitando a soberania popular. O voto vale mais do que qualquer arranjo político e técnico-jurídico que se queira fazer depois de contados todos os votos. É essa a essência do sistema e qualquer outra interpretação significa desrespeitar a fonte primeira de legitimação do poder democrático.
No rescaldo eleitoral, houve quem quisesse misturar expectativas com resultados, em vez de comparar o que é comparável. É verdade que o PS e António Costa ficaram muito abaixo do que chegou a ser tido como possível há seis meses atrás, mas também é verdade que, face às Legislativas de 2011, recuperaram 12 deputados e cerca de 200 mil votos. É certo que a Coligação se manteve no poder depois de um mandato difícil, mas também é certo que perdeu mais de 800 mil votos, 14 pontos percentuais e, na melhor das hipóteses, 29 deputados, ficando em maioria relativa. Sem mas nem qualquer outra consideração, apenas o Bloco e a sua subida em votos, percentagem e número de deputados.
Isso significa que, sabendo-se da predisposição do Bloco e da CDU para inviabilizarem à nascença qualquer governação de Direita, caberá ao PS assumir a sua função enquanto esteio nivelador do sistema. A Direita acha que esse estatuto significa ser o terceiro elemento da Coligação mas sem direito a cartão de pontos e descontos em campanhas; a Esquerda à esquerda do PS, por seu turno, acha que isso significa deixá-los cair à primeira oportunidade.
Ao PS, ensanduichado entre os que ameaçam cair e os que ameaçam fazer cair, compete encontrar, a cada passo, a legítima interpretação dos votos dos portugueses. Assistir de bancada à governação ideologizada da Coligação seria desrespeitar o mandato dos portugueses, que não querem mais quatro anos de quero, posso e mando; por outro lado, encontrar divergências insanáveis a cada decreto-lei seria igualmente perverter a mensagem dos eleitores, que querem moderação e entendimento naquilo que for essencial.
É esse o desafio maior da Coligação e do PS. Serem capazes de se respeitar na diferença e de ceder quando isso for essencial.
Cá
Por cá a história foi outra. Os açorianos quiseram dizer claramente que preferem quem os represente e defenda na República a quem represente e defenda a República nos Açores. Pensaram, com certeza, no mar que é nosso, no estado a que chegaram os serviços do Estado na região, nos sms’s em cima dos anúncios e, pela primeira vez na história da Autonomia, votaram em contraciclo com a República, dando a vitória ao PS.
Depois de ter descido 11 pontos percentuais, perdido cerca de nove mil votos e um deputado; depois de, pela primeira vez, ter vencido no país e perdido na região; depois de ter tido, pela primeira vez na história, uma percentagem mais baixa do que a do PSD a nível nacional – Duarte Freitas acha que não foi da estratégia, que não foi do conturbado processo de substituição do cabeça-de-lista e até foi bom porque não foi horrível. Pois bem, se calhar até tem razão. Não se passou nada que já não se tivesse passado nos últimos três atos eleitorais. Não se passou nada que não se tenha passado sempre com o PSD de Duarte Freitas.