Opinião

Vencidos e Vencedores

A análise aos resultados nacionais das últimas eleições legislativas pode resumir-se a um dado muito peculiar: em bom rigor não houve nenhum verdadeiro vencedor. A análise eleitoral não pode restringir-se aos objetivos que os líderes partidários proclamaram durante a campanha eleitoral. Este critério é insuficiente. Do ponto de vista político há outros elementos que devem ser considerados na leitura dos resultados. A coligação de direita ganhou em votos mas perdeu as condições de estabilidade e de governabilidade necessárias à sua própria sobrevivência a prazo. O PS falhou o seu objetivo de conseguir expressar o notório descontentamento da população, depois de quatro anos de austeridade, mas adquiriu uma influência política determinante. O PCP e o Bloco de Esquerda não foram os vencedores das eleições. Numa democracia madura as forças agregadoras do protesto social desempenham um papel importante, representam uma realidade inquestionável. O problema é quando essa realidade assume uma representação política centrada nos partidos extremistas que se esgotam no protesto. A intransigência e a negação do compromisso por parte da extrema esquerda portuguesa está a servir apenas para abrir as portas do poder à direita. O novo quadro político nacional confere o governo à direita mas obriga Passos Coelho a um esforço de negociação e de diálogo que ele nunca demonstrou no passado. O PS terá um papel fundamental no equilíbrio de um sistema que necessita de uma força na presidência da República que não existe. As presidenciais de Janeiro adquiriram uma importância decisiva. Nos Açores os resultados eleitorais foram absolutamente claros. O PS obteve uma grande vitória e com contornos históricos. O PS nunca tinha vencido legislativas nacionais nos Açores sem as ter vencido também a nível nacional. Carlos César, Vasco Cordeiro e o PS-Açores estão de parabéns pelo feito inédito. Os açorianos escolheram quem mais confiavam para os defender em Lisboa. E também deram um sinal claro de que avaliam negativamente a governação nacional nos últimos quatro anos.