Independentemente das convicções pessoais o resultado eleitoral deve ser lido com clareza. O povo falou. E disse com clareza o que queria. Mas poucos o quiseram ouvir. A gritaria pós-eleitoral é sempre muito pouco ajuizada. Porque todos ganham, mesmo que perdendo. Vejamos então quão derrotados são os vencedores. O povo disse que quer a coligação PSD/CDS a governar, mas não quer que governe como governou até agora. Quer que modele e modere a sua forma de governar. Quer que a coligação não se afunde, obstinada, na austeridade cega, que dialogue e que procure entendimentos. A soma dos votos explica que a maioria dos portugueses rejeitou as políticas de austeridade, mas pulverizou a sua escolha por vários partidos: PS, BE, e PCP. O país votou à esquerda, mas não na mesma esquerda. O voto de penalização fugiu para a esquerda do PS. Apesar disso os portugueses vão continuar a ter um governo de direita, só que agora sujeito ao poder negocial. Quem também perdeu foi o abstencionista, este eterno espetador a quem nada modera a inércia. Que não sabe e que não quer ser cidadão. Que não se lembra e está-se borrifando para o que custou chegar aqui. Nos Açores houve mais clareza. O PS venceu. O PSD perdeu. O BE cresceu. O CDS encolheu. As faces da noite eleitoral não acusam a derrota. E só um olhar mais apertado a escrutina. Duarte Freitas ficou satisfeito porque o resultado não foi a hecatombe prevista. Antes uma queda do que um trambolhão é verdade. Mas se nove mil votos, 10% e um deputado a menos depois Duarte Freitas ainda acha que podia ser pior, eu cá não digo nada. A verdade é que fez história ao levar o PSD/A bater recordes: o de perder na região com uma vitória no país, e o de ter tido uma percentagem inferior à do PSD nacional. Há demasiados perdedores disfarçados de vencedores, para quem a farsa durará a prazo. É certo que cairão, só não se sabe ainda quando.