Quando as eleições foram marcadas, Passos Coelho avisou que os governantes “deviam ter parcimónia e cuidado para não se utilizar os lugares públicos para fins de natureza partidária”. Não podia concordar mais. No entanto, a realidade foi bem díspar. No hiato de tempo em que não temos um novo governo efetivamente em funções, assistiu-se a um verdadeiro baile furado de colocações de (agora) antigos adjuntos e chefes de gabinete de ministros que, desse modo, foram colocados em cargos de poder, altos cargos do Estado, em comissões de serviço de três a quatro anos.
Nada que surpreenda. No entanto, é necessário que a memória seja clara. Não é correto que Passos Coelho tenha advertido para a imperatividade do evitar da criação de situações destas para depois elas acontecerem, e mais grave, não se tratando de um ou dois casos isolados. Foram muitos. O descaramento chegou ao ponto de se colocar o ex-adjunto do ministro dos Negócios Estrangeiros no cargo de Embaixador de Portugal na União para o Mediterrâneo. Embaixador de Portugal para o quê? Fazem o favor de repetir? Um cargo que não tinha qualquer representante de Portugal a tempo inteiro, mas que Mário Gomes irá ocupar durante os próximos quatro anos. Bravo.
Este tipo de assunto não é dos que mais agradáveis de tratar. Tudo o que roce o âmbito da mesquinhez, não agrada. No entanto, quando as contradições são crassas e a hipocrisia é muita, eriça-se a paciência. Já os antigos diziam que “quem tem telhados de vidro não deve atirar pedras”. É verdade. Então porque continuam os arautos do PSD nos Açores a bater na mesma tecla, relativamente à família do político A, B ou C (como se ser família de alguém que seja político fosse proibitivo de se seguir o mesmo caminho ou, heresia!, até ser bem sucedido em alguma coisa), quando o seu próprio partido não é exemplo nenhum de correção ou moralidade?
Mas ainda outro provérbio pode bem aqui ser aplicado: “quem não tem vergonha, todo o mundo é seu”. Muito se incha o papo à galinha quando não olha ao prato. É que o assunto já começa a criar bolor e creio também que os Açorianos estão cansados da prosápia descabida com que alguns comentadores insistem num assunto que não o é e se esquecem que questões relevantíssimas existem a ser tratadas.
Centremo-nos no que é importante. Portugal está a atravessar uma fase delicada que exige que nos foquemos no que é verdadeiramente essencial. E aos atores políticos requer-se a mais absoluta seriedade, num cenário pós-eleições da maior complexidade. Nos Açores, estamos num cenário de discussão e aprovação dos novos Plano e Orçamento, que definirão, novamente, os investimentos para a Região no próximo ano, prevendo, a título de exemplo, um reforço de verbas de mais de 20 por cento para a área da Solidariedade Social, demonstrando que assim se trabalha pelos Açorianos que se encontram em situação de fragilidade. Prevê-se também um aumento de 13% nas dotações dedicadas à juventude. Paralelamente, foi anunciado que o Governo Regional investirá 325 mil euros na construção e reabilitação de habitações, trabalha afincadamente no programa ProSucesso, investe na Ação Social Escolar, requalifica estruturas essenciais às populações, investe no Turismo e no desenvolvimento da nossa Região, na Agricultura (com o recente reforço do prémio à vaca leiteira, por exemplo) e em muitos outros setores que, no dia-a-dia dos Açorianos, das suas famílias e das suas empresas, têm um grande impacto. Isto, sim, é o que interessa verdadeiramente. Não os fait divers que não servem para nada.