Supostamente, Duarte Freitas terá reunido o Conselho Regional do PSD Açores para que o órgão máximo entre congressos dos social-democratas dos Açores refletisse sobre os resultados das eleições legislativas do passado dia 4.
Supostamente, as senhoras e os senhores conselheiros terão refletido, num contexto que não é particularmente fácil, já que a estratégia adotada pelo partido na Região acabou por se revelar desastrosa. Supostamente, Mota Amaral, o cabeça-de-lista que Duarte Freitas trocou por Berta Cabral, dando origem a uma derrota histórica na Região, não terá estado presente na reunião. Supostamente, o Conselho chegou a conclusões.
O advérbio de dúvida, repetido conscientemente no parágrafo anterior, não tem por função por em causa os factos. Houve mesmo uma reunião; essa reunião tinha mesmo como propósito refletir sobre as Legislativas; Mota Amaral não foi mesmo à reunião; e houve mesmo conclusões, transmitidas à imprensa pelo Secretário-Geral do partido (documento escrito não me parece que tenha havido ou, havendo, não está disponível para consulta no site do partido). A função do repetido “supostamente” serve, antes, para transmitir o misto de surpresa e incredulidade que me assolou enquanto ouvia o porta-voz do PSD Açores debitar as conclusões do difícil exercício de meditação coletiva que o partido se viu obrigado a fazer.
II. Segundo Ricardo Pacheco, a conclusão essencial é: o PSD Açores exige saber o que pensa o PS Açores da hipótese de haver um Governo de esquerda em Lisboa. Como?! Importa-se de repetir?! E ele repetiu mesmo: o que importa neste momento é que o PS Açores explique a sua posição relativamente à possibilidade de haver uma coligação de esquerda no Continente. E ficou-se por aí.
Ora, eu nunca fui militante do PSD, mas sei, por experiência própria, em reuniões de outra latitude e (felizmente) de outra magnitude, que quando um partido perde eleições as coisas tendem a ser completamente centradas nas razões para a derrota e no apuramento de responsabilidades. É óbvio que esta regra admite exceções, mas nenhuma delas abrange atos eleitorais desastrosos, em que se batem recordes negativos, perdem-se votos aos milhares e se passa da condição de vitorioso à de derrotado. Também é óbvio que o comunicado final de uma reunião destas não será nunca um relato detalhado e abrangente de tudo quanto foi dito, mas há limites mínimos. Num cenário deste tipo, a última coisa que passa pela cabeça dos dirigentes é, perante a evidência pública da desgraça, nem sequer falar da derrota.
III. No PSD Açores de Duarte Freitas não é assim. Mantendo aquela sinistra fixação no que se passa na República, os social-democratas açorianos continuam à espera que de lá venha ou o seu sustento ou a fome do Governo Regional e, por essa via, do PS Açores. Só assim se explica que, depois de uma derrota histórica, resultante do facto de os Açorianos terem dito nas urnas que preferem ter representantes dos seus interesses na República do que mamposteiros políticos da República na Região, o PSD Açores tenha optado por continuar a sentir as dores dos seus companheiros de Lisboa. Em vez de explicar aos Açorianos porque é que não quis reeditar na Região a Coligação que tanto aprecia na República, Duarte Freitas prefere que seja o PS dos Açores a explicar o que pensa da possibilidade da Esquerda se unir em Lisboa!
IV. E assim será até outubro do próximo ano. Se a Coligação se mantiver no poder em Lisboa, teremos os anúncios soprados por sms, os Ministros e Secretários de Estado esquecidos do protocolo, as desculpas pelos esquecimentos e afrontas da República. Se, pelo contrário, a Coligação for outra e a Esquerda vier a governar, teremos um rosário de indignações, acusações e lamentações contra Lisboa. Num caso como noutro, continuaremos a não ter PSD Açores.