Opinião

(In)certezas

O atual estado político do país é de manifesta incerteza do dia seguinte. A questão de quem detém o poder e o fortalece ou o consolida, guia as táticas e estratégias, depois vem os partidos e o país. Com figurinos idênticos é assim que sempre ocorreu. Neste cenário, Cavaco termina o seu mandato como sempre o conduziu: sem brilhantismo, eivado de obstinações peculiares e esvaziado de utilidade, como há muito tempo vinha demonstrando. Porém, esta “crise” pode significar a passagem a novos paradigmas de poder, mais complexos e difíceis de gerir. A próxima revisão constitucional precisa, assim, de introduzir fatores de modernidade e de celeridade nos processos de mudança de governos. A Grécia e outros países há muito que pensam e agem deste modo. Encurtam prazos e, nem por isso, se pensa que são processos menos democráticos. Pelo contrário, pouco democrático é atrasar e suspender um país por prazos estabelecidos na Constituição, o que merece retificação imediata, em sede de futura revisão constitucional. Portugal confunde formalismo institucional com lógicas absurdas de burocratas cuja única função é “participar” na gestão de pequenos poderes fáticos. Bem sabemos que ainda existem seguidores corajosos de Friedrich Schiller porque assumem que “quem nada teme não é menos poderoso que aquele a quem todos temem…Contudo, a coragem não é a ausência do medo, mas a resistência ao temor e o enfrentar das situações. Os dados estão lançados, uns estarão ressentidos, outros mais ou menos eufóricos. Porém, o país carece de investimento, de menos défice, de balanças comerciais equilibradas, de mais emprego e proteção social. As reservas de muitos inscrevem-se em princípios, no temor pelo desconhecido ou, simplesmente, no arreigamento à tradição. Para já a grande certeza é uma incerteza futura qualquer que seja o desenvolvimento dos cenários político nacionais. Por isso, razão acrescida têm os açorianos e o seu governo socialista quando assumem que em crises nacionais ou fora delas nunca poderemos “baixar as guardas” na defesa dos Açores e da nossa Autonomia. As propensões nacionais, sobretudo em épocas de crises, são sempre no mesmo sentido, ou seja, no relegar e/ou menorizar o quotidiano açoriano.