Opinião

Infiéis

Impossível não voltar a Cavaco. Não é obsessão. É estrita necessidade, em nome da higiene democrática… O senhor consegue ser, e tem reconhecidamente essa utilidade pedagógica, uma síntese de conservadorismo bacoco, na melhor tradição do “mago das finanças” que nos há-de salvar e livrar-nos das arengas dos partidos e dos parlamentos, numa pose de inspiração salazarenta, que veio da província e providencialmente descobriu a política, já com a rodagem feita… É claro que a indigitação de Passos é, uma interpretação ainda dentro das margens da Constituição, e certamente ninguém esperava um golpe de asa de tão rígida personalidade. A segunda parte do discurso, porém, foi rasteira, vingativa e primária, penetrando para lá das linhas da tolerância democrática, num país onde os Governos não dependem politicamente do Presidente e vigora o sagrado princípio “um homem, um voto”. O discurso foi tratado, como não podia deixar de ser, com desprezo e contundência, sobretudo pelo diário britânico “TheGuardian”. E está condenado a fazer o contrário do que anuncia, como um Midas ao contrário. Não foi ele que exigiu negociações, compromissos e governo estável? Afinal era, mas só com o partido dele!