Menos de 24 horas após a queda do governo liderado por Passos Coelho e Paulo Portas, o Palácio de Belém pôs a circular a notícia sobre uma deslocação oficial do Presidente da República à Madeira, já na próxima semana.
O Presidente que cancelou a sua participação na comemoração da implantação da República, por motivo previsível, dá agora um sinal de conformidade democrática e constitucional ao quadro político que resultou da queda do governo.
Apesar dos sinais vindos de Belém, a situação que o País vive é inédita e causa por isso sentimentos de apreensão e de preocupação.
Nas eleições de 4 de Outubro a coligação entre o PSD e o CDS perdeu a maioria absoluta no Parlamento. Passos Coelho obteve um resultado que lhe permitia continuar como Primeiro-ministro mas não lhe conferiu condições para manter a mesma política.
Passos Coelho não compreendeu que a sua governação criou uma profunda rejeição em toda a esquerda parlamentar. A sua minoria de apoio obrigava-o a negociar pacientemente cedências e compromissos. Em vez disso foi arrogante e prepotente. Negociou por ultimatos. Comportou-se como um general que exige a subjugação e a humilhação dos vencidos. O processo culminou com a Direita isolada e a jurar vingança na oposição.
A circunstância que o País vive confirma o que Marcelo Rebelo de Sousa alertou, várias vezes, nos seus comentários na TVI. Passos Coelho é obstinado e firme nas suas convicções mas comete muitos erros de cálculo. Desta vez a sua avaliação foi fatal.
O que falta a Passos sobra a António Costa. O secretário-geral do PS, com a sua conhecida astúcia e inteligência política, assumiu as suas responsabilidades por inteiro e conseguiu construir uma improvável plataforma de apoio a um governo do PS. Apesar da incerteza e dos riscos, António Costa deu coerência política a uma soma de PS+BE+PCP que parecia ser meramente aritmética.
A confirmar-se o aval presidencial, a António Costa caberá a dificílima tarefa de construir um admirável mundo novo e evitar os resultados de um conhecido mundo velho. Boa sorte António.