O futuro a Cavaco pertence. Dir-se-ia. E pode dizer-se com propriedade que o Presidente da República tem a faca e o queijo nas mãos. Resta saber o que escolherá fazer com eles. O programa de governo da coligação de direita foi rejeitado pela maioria dos deputados à Assembleia da República. E Costa assinou os acordos de princípios com BE, PCP e PEV, garantindo assim um apoio parlamentar maioritário. Perante isto Cavaco terá de decidir se empossa António Costa como Primeiro-ministro, ou se, pelo contrário, mantém um governo de gestão. Sem programa e sem capacidade de tomar iniciativas que extravasem a gestão corrente.
A maioria dos comentadores entende que o Presidente da República tem uma curta margem de manobra para decidir por outra solução que não esta. A leitura da Constituição sugere-o. Mas, na verdade, antes disso, Cavaco pode, baseando-se no seu discurso de indigitação de Passos Coelho como Primeiro-Ministro, defender que esta solução não preenche os pré-requisitos de credibilidade, estabilidade e durabilidade que então exigiu. Se não o disser, Cavaco terá de dar posse a uma solução governativa que abomina, mas que é maioritária em termos de suporte parlamentar. Se o disser optará pela solução precária de manter o governo em funções e passar a batata quente para o seu sucessor.
Suspeito que esta decisão de ouvir diversas personalidades indicia o repúdio que sente pela solução governativa de esquerda e procura lastro para adiar esta decisão. Ganhará tempo. Os portugueses vão-se desinteressando lentamente da intriga. E, mais tarde, anunciará que os acordos são omissos em questões que reputou como fundamentais, o tratado orçamental, a NATO, o euro, a União Europeia. E, nestas circunstâncias, arrastado o impasse, optará por manter um governo de gestão, com os custos inerentes, e uma esquerda galvanizada pela intransigência do Presidente. O futuro a Cavaco pertence.