Caiu o Governo apenas onze dias depois da sua tomada de posse com os votos do PS, BE, PCP, PEV e PAN, como podia ter caído ao fim de dois anos, tal como caiu o último Governo do PS em 2011, só que daquela vez com os votos tanto à direita com à esquerda do hemiciclo. O exercício que temos de fazer para compreender esta questão é o mesmo, exatamente o mesmo.
Passos Coelho fez-se muito admirado com toda esta movimentação que é afinal uma situação que ele conhece muito bem, que preparou com todo o cuidado.
Recordemos. Depois das eleições de 2009, ganhas pelo Partido Socialista com maioria relativa, Passos Coelho chega à liderança do seu partido devido à demissão da anterior líder e preparou o assalto ao poder. Promoveu a queda de um governo que também tinha sido o mais votado, aproveitando a desculpa, como se sabe, do PEC 4 que, para ele, era motivo suficiente para destituir um governo legítimo, tendo com base a sua discordância no aumento de alguns impostos contidos naquele documento de planeamento. Viemos todos a perceber que se tratou de uma falácia, porque, quando chegou ao Governo, fez tudo ao contrário do que prometeu na sua campanha eleitoral.
Em 2011 fomos para eleições antecipadas, por duas razões. Primeiro não houve qualquer esforço para se arranjar uma solução no Parlamento e depois por termos, naquela altura, um Presidente da República com plenos poderes que a Constituição lhe confere.
Agora estamos numa situação diferente. Por estarmos à beira das eleições presidenciais, Cavaco Silva está limitado na sua ação política e por culpa só dele, porque ignorou os pedidos para antecipar alguns meses estas eleições. Em segundo lugar, os partidos da esquerda, que detêm a maioria no parlamento, negociaram e viabilizaram um acordo de governo para os próximos quatro anos.
Nas eleições legislativas elegemos deputados e não o primeiro-ministro ou o governo e sabe-se que a coligação, logo a seguir às eleições, não fez qualquer esforço para encontrar entendimentos no seio da Assembleia da República, local próprio para o fazer.
O que esperavam? Será que esperavam governar como governaram estes quatro anos sem ninguém lhes dizer nada? Parece que era assim…
Além disso não podemos esquecer que o próprio Presidente da República disse que só dava posse a um governo que lhe desse garantia de estabilidade. Não o fez na primeira vez, agarrou-se à tradição. À segunda esperemos que deixe os favoritismos pessoais de lado e dê razão à voz do Parlamento.