Opinião

Low-cost na ilha Terceira

“As low-cost chegaram à ilha Terceira na passada sexta-feira.” Esta pequena frase contempla em si vários significados: o cumprimento da palavra dada aos açorianos, pelo Primeiro-ministro António Costa e pelo Governo dos Açores; e o reforçar da confiança no futuro do setor turístico da ilha Terceira, que já hoje apresenta um crescimento acumulado, face ao ano passado, de 64,7%. Não deveria ser necessário lembrar o cumprimento da palavra dada por qualquer responsável político, mas tendo em conta o historial da vinda das companhias de baixo custo para a ilha Terceira, não posso deixar de o fazer, e de lembrar que em julho de 2015, ainda com a coligação PSD/CDS-PP no Governo da República, o presidente do PSD/Açores, Duarte Freitas e o líder do CDS, Artur Lima, numa ânsia de tentar obter proveitos eleitorais, anunciavam “a breve trecho” a chegada destas companhias. O ridículo a que se expuseram estes responsáveis políticos foi tal, que não bastando anunciar algo que não sabiam, chegaram a mencionar que um pequeno animal, um “passarinho”, lhes tinha referido que seria a EasyJet a voar para esta ilha. Ora, nem o “a breve trecho” aconteceu, nem o “passarinho” chilreou a companhia de aviação certa, já que foi preciso o Governo da República mudar e, já com António Costa como Primeiro-ministro, para conseguirmos acordar a vinda da empresa Ryanair para a ilha Terceira, com seis voos semanais para o continente. O mínimo que se exigiria a estes responsáveis políticos é que pedissem desculpa. Atenção ao Sebastianismo É do senso-comum que a melhoria do modelo de acessibilidades à Região, a liberalização controlada do espaço aéreo, - diferente do modelo de liberalização pura do espaço aéreo que vigorava então na Região Autónoma da Madeira – mudou totalmente o turismo nos Açores. Mas o “senso-comum” é isso mesmo, uma perceção por todos de algo que parece óbvio, sem qualquer aprofundamento na análise. Em Portugal, gostamos muito destas verdades, que empurram em “carneirada” as opiniões publicadas para “soluções únicas”, “verdades inquestionáveis” que, com a sua chegada, resolverão todos os nossos problemas. Este “Sebastianismo” aconteceu e acontece nos Açores com bastante vigor e quase histeria em relação às empresas low-cost, como solução única de acessibilidades para o Turismo. Não gosto de “fenómenos de multidão”, porque a análise é sempre genérica e não nos permite ver para além da nuvem que levantam. Vamos aos detalhes que sabemos: hoje, o novo modelo de acessibilidades mudou, sem margem para dúvida, o tipo de turista maioritário na Região para o chamado “independent traveller”; sabemos que todas as companhias aéreas que voam de uma forma regular para os Açores tem tido crescimento de passageiros na ordem dos dois dígitos; sabemos também, que apesar do crescimento que tivemos nos voos para o continente, os únicos regulares com “low-cost”, o mercado emissor nacional apenas significa 40% do total de turistas (já foi 60%), seguido do mercado alemão, 14,5% e mercado americano com 9,7%; Com uma análise simples destes dados, ou seja, verificando o não aumento do peso do mercado nacional face a outros, não acessíveis diretamente por “low-cost”, já nos é possível inferir que todos os outros mercados relevantes estão crescer, - o que é bom! - alguns até mais do que o mercado nacional e, que deve motivar também a análise do número de estrangeiros que voam nas companhias de baixo custo para os Açores, o impacto das rotas da SATA para a América do Norte e da tour operação. Com este estudo mais aprofundado provavelmente perceberemos que o que está a acontecer no turismo dos Açores é mais estruturado e complexo do que apenas a vinda das companhias aéreas de baixo custo.