I. O ressentimento e a sobranceria são péssimos conselheiros políticos porque ambos fazem com que a ação política se centre no próprio agente e nas suas particulares obsessões, deixando para segundo plano o interesse geral e a maioria que lhe dá sustentação.
Quem age politicamente por ressentimento, ajustando contas com o passado, querendo provar uma injustiça de que se acha vítima, acaba desfasado do presente, incapaz de reconhecer os anseios das pessoas e de responder às necessidades do momento. Por outro lado, quem se move politicamente em torno do seu próprio eixo, achando que, mais cedo ou mais tarde, o mundo acabará por reconhecer e fazer justiça às suas enormes qualidades, vai perdendo o contacto com a realidade e o respeito dos que o acompanham. Num caso como noutro, o fim costuma ser trágico, porque a realidade não espera e não faz qualquer esforço para se adaptar às especificidades do percurso político de cada um.
II. Estes considerandos de psicologia política – à falta de melhor definição – servem para caraterizar o estado em que o PSD se move, devido às idiossincrasias do seu momento interno e do percurso das suas lideranças no plano nacional e regional.
No país, Pedro Passos Coelho vive agarrado àquele fatídico dia em que a geringonça ganhou vida. Não se conforma com o alinhamento astral que, pela primeira vez na história da nossa democracia, permitiu uma solução governativa estável de incidência parlamentar. Um ano depois, ainda não consegue aceitar que partidos que, apesar de comungarem de uma matriz de esquerda, nunca se conseguiram entender, se tenham agora reunido precisamente para o tramar. Ressentido e ressabiado, vive obcecado com a vinda salvífica de uma hecatombe económico-financeira que demonstre aos portugueses que ele tinha razão, que não havia mesmo outro caminho e que o passado será vingado.
Entretanto, o país pula e avança. O PIB, o desemprego, o investimento privado, as expetativas dos empresários e consumidores, o défice – enfim, quase todos os indicadores mais relevantes, teimam em não alinhar com o ressentimento do ex-primeiro-ministro, que, por sua vez, teima em manter-se como arauto da desgraça que nunca vem. Passos Coelho há muito deixou de ser líder de uma alternativa, ou mesmo líder de uma força política da dimensão e com as responsabilidades do PSD. De há um ano para cá, é apenas líder da sua própria vendeta, mentor e executor de um desgarrado plano para voltar a ter razão.
III. Por cá, o problema do PSD é outro. A nível regional, e depois de uma derrota eleitoral que, se outras leituras não teve, demonstrou pelo menos que a liderança de Duarte Freitas não tinha o apoio popular que o próprio pensava, quando afirmou que teria o melhor resultado desde 1996, o agora recandidato a líder do PSD/Açores vive acima da espuma dos dias, das pequenas incidências do quotidiano político, à espera do dia em que o mundo o reconheça como indispensável.
Debateu o Programa do Governo, na Assembleia Legislativa da Região, contrapondo o mesmo programa eleitoral que os açorianos não validaram, afirmando que o pretende executar nos próximos quatro anos. Apresentou-se de novo à liderança do partido como se não tivesse tido um pleno de derrotas no seu mandato anterior e como se isso não implicasse retirar consequências políticas, a não ser que, com o tempo, um dia, haverá de lá chegar. Entretanto, a Região pula e avança, e, tal como o país, vai trilhando o seu percurso de consolidação da economia.
IV. O país e a região precisam de um PSD à altura da sua história e das suas responsabilidades. A realidade tem sempre razão e os partidos políticos não podem ser reféns das circunstâncias dos seus líderes. As contas que o PSD tem a ajustar são, em primeira instância, consigo próprio. A bem de uma democracia mais dinâmica e plural.