Há dez anos, o BANIF era um símbolo do sucesso empresarial transnacional lusitano. Uma época em que a banca portuguesa se vangloriava de ser o setor mais moderno e competitivo da economia nacional, ao ponto de participar e triunfar na Globalização.
A história da última década do BANIF é semelhante a muitos outros bancos. Os banqueiros foram os primeiros a perceber a imensa oportunidade que representou a obtenção de empréstimos externos em euros, com taxas de juro e taxas de inflação historicamente baixas.
A banca portuguesa refugiou-se no setor imobiliário e no crédito ao consumo. O risco de investir na indústria, no comércio ou nos serviços era considerado alto. O imobiliário representava a segurança. Não podia ser deslocalizado, raramente falia e representava um ativo de valorização anual garantida.
Tudo decorreu com estímulos nacionais e europeus errados, com o conhecimento de supervisores, com a cumplicidade de reguladores e com a euforia de acionistas.
A festa terminou com a grande crise financeira de 2008. O setor financeiro sofreu um abalo tectónico e acumulou perdas colossais, no maior processo de destruição de valor dos últimos 80 anos.
Independentemente das orientações políticas, os governos resgataram a maioria dos bancos injetando capitais públicos em troca de participações ou concedendo empréstimos especiais à banca. Por mais que custe a aceitar, uma economia moderna não sobrevive sem um setor financeiro estabilizado.
O BANIF foi vítima de uma resolução que se tornou inevitável pelas mentiras e irresponsabilidade do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas.
Porém, a verdadeira questão de fundo é outra. A ira da opinião pública prende-se com a impunidade que paira sobre todas as intervenções bancárias em Portugal. A Islândia teve uma crise financeira brutal. Salvaram-se e liquidaram-sebancosmas apuraram-se responsabilidades criminais e prenderam-se quase 30 altos responsáveis da banca islandesa.
E no caso BANIF? Perante o que é conhecido e público há mais de um ano ninguém vai preso? Nem pelo menos meia dúzia de detenções para interrogatório?
Um feliz Natal a todos.