Opinião

Querer mais do que prever

I. Um ano de atividade política nos nossos dias é muito tempo. Estando a lógica política refém do tempo mediático e (agora cada vez mais) também do borbulhar das redes sociais, fazer previsões num horizonte de doze meses é um exercício desnecessariamente arriscado, além de necessariamente inglório. E, no entanto, é o que se espera que aconteça de cada vez que o calendário gregoriano dá uma volta e os agentes políticos são chamados a “perspetivar o novo ano”. Pedem-nos certezas e convicções profundas. Ninguém espera que um responsável político responda com um cândido “Não faço ideia”. É claro que os políticos, tal como os economistas no pós-2008, preferem fazer balanços, sempre mais reconfortantes porque assentes em pretéritos atestados, mais fáceis de interpretar a contento, mais domáveis. Mas é de futuro que a política se faz, do que ela pode significar para a resolução dos desafios do presente e para o alcançar de novos patamares de progresso. II. O Grupo Parlamentar do Partido Socialista, enquanto reflexo da vontade maioritária dos Açorianos, manifestada nas eleições de outubro último, tem definidas as suas prioridades de atuação em linha com o Programa de Governo recentemente aprovado e com os objetivos fixados pelo Partido para a sua governação no próximo quadriénio. É neste contexto que 2017 tem de ser, antes de mais, o ano de arranque da reforma política e institucional da Autonomia, para que ela possa, atualizando-se, envolver de forma mais participada os seus destinatários últimos, os Açorianos, e tornar-se mais capaz de responder aos seus anseios e de fornecer respostas eficazes às suas reivindicações. Num processo que, a nosso ver, tem de ser, desde a sua origem, amplamente discutido e publicitado, e em que a articulação de posições entre forças políticas é mais importante do que a imposição de uma qualquer agenda partidária de circunstância, cumpre-nos projetar uma Autonomia de futuro. No plano interno, isso significa tornar mais fácil, evidente e consequente o envolvimento das pessoas no processo político, que não pode ser percebido como um teatro institucional de guerrilha, afastado da vivência do dia-a-dia dos Açorianos, mas que tem de se tornar antes num meio acessível de definição e implementação de um projeto comum de desenvolvimento para a nossa Região. Uma Autonomia com alma, com pessoas dentro. Uma Autonomia dinâmica, partilhada e coesa, que se misture organicamente com a vida dos Açorianos. No plano externo, por outro lado, significa consolidar a relação matura e responsável que a Autonomia tem sabido manter com o País, limando resquícios anacrónicos de tempos de desconfiança mútua e dando corpo a novas e legítimas ambições que resultam da dinâmica evolutiva da própria realidade autonómica. Em ligação estreita com essa missão, o combate à abstenção eleitoral é outra das prioridades do PS para 2017, ano em que ficaremos a dispor, pela primeira vez por iniciativa do próprio sistema político, de uma radiografia rigorosa do fenómeno na Região, graças à realização de um estudo científico sobre a matéria. Essa informação constituirá a base indispensável para que se possa atuar legislativamente com precisão, no sentido de tornar o sistema eleitoral adequado à realidade específica da Região e à evolução da própria sociedade, em termos de mobilidade, acesso e difusão da informação. III. Em paralelo, 2017 será também o ano de consolidação e equilíbrio dos bons indicadores socioeconómicos que a Região tem vindo a registar, ultrapassado o período mais agudo dos reflexos da crise económico-financeira. Essa tarefa é política, mas também é um desígnio de todos os que, no dia-a-dia, lutam, nas várias áreas de atividade, por melhores condições. Foi assim que chegámos a 2017 com fundadas expectativas num ano melhor.