Opinião

Mário Soares

No passado dia 7 de janeiro, aos 92 anos de idade, faleceu o Dr. Mário Soares, uma das maiores figuras da democracia portuguesa. Antes da revolução dos cravos foi um grande ativista político que tentou combater o anterior regime e defendeu, como advogado, diversos presos políticos, condições que o levaram à prisão, pelo menos 12 vezes. Não se intimidou e lutou sempre. Arrancado da sua família foi obrigado ao desterro e ao exílio. Foi co-fundador do Partido Socialista em 1973, em França, e regressou a Portugal logo a seguir à revolução de Abril de 1974. Político com rara intuição, atuou com sabedoria para garantir a liberdade e evitar outros tipos de ditadura que a extrema esquerda desenhava para o país no verão quente de 75. Adepto do pluralismo partidário, incentivou o surgimento de novas formações partidárias, quer à sua direita, quer à sua esquerda, atuando sempre com desprendimento e sem qualquer obsessão pelo poder. Foi ministro em alguns governos provisórios, primeiro-ministro em três governos constitucionais, Presidente da República em dois mandatos e eurodeputado. Inaugurou uma nova maneira de fazer política de proximidade, as presidências abertas, percorrendo todo o país para ouvir diretamente as preocupações e anseios das populações. Lutou sempre por aquilo em que acreditava. Foi acutilante, mas sabia e gostava de ouvir. Nunca se vergou ao poder económico. Respeitou sempre quem não pensava como ele. Foi o político que mais vezes foi a eleições e que mais votos recebeu. Homem do mundo, foi pela sua mão que Portugal entrou na Europa, contribuindo para a modernidade de um país que foi, até 1974, cinzento e com o futuro adiado. Morreu o Homem, resta-nos o seu vasto legado.