Para sempre recordado como um homem marcante do século XX, Mário Soares lutou pela Democracia e Liberdades, antes, durante e depois do Portugal democrático.
Estadista com elevado sentido de que a Liberdade só se afirmaria num Estado Democrático e pela justiça quis afirmar um Portugal moderno, respeitador de outros povos e de liberdades religiosas.
Neste terceiro dia de luto, uma forma de homenagear o homem que, contribuiu para uma escrita e vivência livres, é, em cada um de nós, para além do que a história se encarregará sempre de nos lembrar, recordar Mário Soares.
Nunca privei com Mário Soares. Sempre o admirei. Li biografias. A última que li “ Um político assume-se”. Um texto de referência.
Da memória que hoje partilho, tenho uma decisão que me trouxe aos Açores. E por ela, o meu reconhecimento pela sua grandiosidade visionária. A descolonização de Angola.
A decisão de descolonização de Angola influenciou a minha vida. Nascida em Angola, fui ( ou sou, um marco que nos acompanha toda a vida) retornada de um país colonizado, com meses de idade sem capacidade de perceber o que se estava a passar. Entre as rãs que serviam de almoço durante a viagem, nas histórias contadas fica o privilégio da idade que reserva-me o leite e a papa.
Procuro e esforço-me para não ceder à fácil tentação de classificar o que foi mais significativo: o que os Portugueses perderam ou os Angolanos quando estes lá chegaram. Ou terão sido os dois povos? Foi um momento e contextos que definiram ações. Foi um momento de dor, de morte e de tristeza. Nestas circunstâncias nenhum povo pode ganhar. Nenhum povo é superior a outro.
Ao longo dos anos a consciencialização de um erro do meu país para com outro, sempre me assolou. A colonização foi e ainda é, por mim, incompreendida. Aos povos a liberdade.
Graças à descolonização de Angola vim para Portugal, rumo aos Açores. Graças à visão de Mário Soares.
A força das convicções, da luta pela dignificação do estado Republicano e Democrático – e acrescento aquele que é o suporte do princípio da Autonomia das Regiões Autónomas – são valores que referenciam o homem que nos deixou e que tanto nos deixou.
Na invasão boa de memórias da sua vida por estes dias registo, porque em política tem um significado muito especial, e Mário Soares sempre se assumiu político, um testemunho da forma como este respeitava e dialogava com os seus opositores. Expressando na sua máxima o valor da tolerância e do respeito, renegando o rasteiro e brejeiro, dignificando o sistema político e os seus protagonistas, sempre, sempre com elevação. Porque, um político assume-se!
Obrigada, Mário Soares!