Opinião

As imagens dos 60 anos

A assinatura do Tratado de Roma foi recordada há dias. Foi a 25 de março de 1957. Nesse mesmo dia assistiu-se ao episódio instituidor da Comunidade Económica Europeia (CEE), génesis da atual União Europeia (UE). O “Tratado de Roma” foi o culminar de um processo após a Segunda Guerra Mundial, que deixou a Europa económica e politicamente destruída e fragilizada face aos Estados Unidos e União Soviética. Perante, por exemplo, um mercado único, livre circulação de bens e cidadãos ou diplomas reconhecidos, são realidades que dizem muito no dia ao dia aos cidadãos, 60 anos depois (ou durante estes) erguem-se “muros”, “populismos” e “discursos e acções de ódio”. Num apelo à paz dentro e fora da União Europeia, ouve-se uma candidata francesa, que uma abstenção elevada poderá ditar a sua eleição, anunciar a morte da União da Europeia. A comemorar os 60 anos estamos perante a maior crise de refugiados após a segunda guerra mundial. Algo que nos recorda 1957. Como se o passado estivesse no presente. Não é meu propósito, pelo menos hoje, analisar o estado da União Europeia, o seu passado, presente e futuro ou a eterna crise de valores, onde os seus líderes (não eleitos) afrontam os próprios princípios da “casa” que governam. Hoje relembro as duas imagens que acompanharam os dias 25 de março separados por 60 anos. Os cartazes do Tratado de Roma em 1957 e 2017 são um muro de diferenças. E as diferenças estão muito para além da inovação gráfica. Em 1957 o cartaz centrou-se em sete jovens de mãos dadas alegres, unidas e a olhar de frente. Sinal de coragem, do assumir da opção da união e do seu conjunto. Cada jovem vestia uma saia que representava a bandeira de cada Estado. A imagem de 2017 substitui as sete jovens por três pássaros(de cor única). Dois pássaros “olham” para a direita e um “olha” para a esquerda – que esta orientação não seja uma premonição do destino político da Europa. Não há referência a nenhum país. Aos 28, ou será aos 27, ou aos 26… À mensagem dos valores humanos, parece-se dar-se lugar ao desconhecido e ao desnorte. Num importante Tratado de “palavras” as imagens se sobrepõem, por ventura, por ausência de ações de união do passado e do presente e que comprometem o futuro.