Noventa por cento dos votantes no dia 1 de outubro firmaram um destino para um território. Catalunha independente. Um país, Espanha, na sua Constituição, não permitindo, foi possível, numa democracia, num governo parlamentar sob uma monarquia constitucional, que se realizasse um referendo numa região autónoma para a transformar numa região independente – o sentido inverso seria possível de forma unilateral? Não é a primeira vez de Catalunha rumo à independência. Repete-se o último cenário de 2014.
A dúvida após a certeza fulminante do “sim” à independência de Catalunha parece abrir fendas perante o recuar de apoio de personalidades, de instituições (UE) e da agitação financeira e económica , com as transferências de sedes de empresas e o levantamento de depósitos bancários.
É aceitável, podendo constitucionalmente ser questionável, o anseio de populações pela independência do seu território, tomando a total responsabilidade perante uma campanha informativa rigorosa e os seus resultados. Dos prós e contras. A montante desta campanha há que existir diálogo entre os Governos e não a jusante radicalismos.
Concebo um desejo de independência de uma região autónoma do seu país, se existirem relações fragmentadas, disparidades culturais, confrontos linguísticos, desligamento de poderes públicos e institucionais, esvaziamento do poder regional e uma autonomia limitadora que minimiza a ação do território e o povo da região. Não sendo assim, a geografia mundial e a relação dos e com os povos mudarão a um ritmo que não acompanharemos. E perante os desafios mundiais que enfrentamos as independências dos momentos e para os momentos são secundárias, tornando-se umbiguistas.
Perante esta turbulência os governos nacionais e regionais espanhóis estão a mostrar-se incapazes de lidar com as tensões. Radicalismos por um lado e vias policiais e judiciais por outro. Num país democrata na sua relação com uma região autónoma não se pode esvair no combate pelo combate.
O início e o meio deste processo é desastroso. O fim pode ser calamitoso, lançando “povos” para uma guerra cujas consequências ninguém quis prever, apenas e só importou prevalecer uma vontade unilateral.
Os projetos políticos, constitucional e democraticamente escolhidos pelo povo, não podem ser substituídos por uma Declaração Unilateral de Independência. O passado é mais que o passado. Em 1931 assistiu-se a uma “declaração unilateral para a, então, denominada República Catalã”. Passados 86 anos não se pode insistir num mesmo modelo e esperar resultados diferentes. Exige-se mais dos políticos contemporâneos.
Perante as dúvidas que suscitam estes processos, exige-se mais política partilhada e menos unilateralismos.