Opinião

Bom na teoria, mau na prática

Eu também comungo o pensamento Kantiano da falácia desta afirmação; de facto se algo de mau houver na prática, é porque há algo de errado na teoria. Vem isto a propósito da pobreza e exclusão social, estes problemas que em teoria preocupam muito alguns; mas que na prática os usam só como arma política de arremesso. Se não houvesse a pobreza, a exclusão social ou outros problemas sociais transversais na sociedade, mesmo assim não teríamos a sociedade perfeita, esta quimera civilizacional, que nos move para o seu aperfeiçoamento, que será tanto melhor conseguido quanto mais conseguirmos reduzir as desigualdades. Porque não entendo o uso da teoria sem uma prática de soluções ajustadas, sou apologista desta dinâmica interventiva com base no conhecimento e não na teorização estatística. Entendermos os fenómenos sociais que consubstanciam a problemática da pobreza, só dos tipos de pobreza que conseguimos caracterizar, não é tarefa fácil. Já foi mais fácil quando a pobreza se definia em contraposição a ricos e remediados pelos seus sinais exteriores. Já não é assim. Ser pobre é um estatuto social de pessoa carente, em face do nível de vida médio de uma comunidade onde se insere. E aqui começam as dificuldades na sua caracterização. Aqui começam as dificuldades na sua erradicação. Disseram erradicação? Outra falácia, porque em teoria sim, na prática não. A pobreza combate-se; e para se combater é necessário continuar a conhecer, a caracterizar e a agir. Como problema social que é, a pobreza e a exclusão social de hoje, não é só a falta de acesso a saúde, educação, habitação e trabalho como fonte de rendimento; é mais do que isto, é a falta de capacitação para o conseguir pelos seus próprios meios, condicionados também pelos padrões de uma sociedade de consumo e de uma economia em ciclos de crise, que também devemos entender e combater. Os nossos pobres, podem ser mais ou menos pobres do que outros pobres de outras latitudes, mas é com eles que devemos trabalhar para promover esta mudança de paradigma que é a promoção da sua capacitação, reduzindo as desigualdades. Há quem critique que o Governo tenha em elaboração um plano para combate à pobreza e exclusão social, com base na auscultação e estudo desta problemática nos Açores. Estranho! O que se deve criticar é precisamente o contrário. É pensar-se que se pode continuar a combater a pobreza e a exclusão social sem atualizar os seus contextos. Causas há que não mudaram e provavelmente não mudarão, sendo idênticas em algumas formas de pobreza e exclusão por este mundo fora, mas as formas de luta modificaram-se, desde logo pelas formas de apoios sociais, acompanhamento e monitorização dos alertas para apoios extraordinários assim como políticas que implementam o emprego e a qualificação. Modificaram-se e devem continuar a modificar-se, adaptando-se a novas realidades e mutações. Não entender isso é querer cristalizar a pobreza em números e referências estatísticas, enfim má teoria que não leva a boa prática. Afirmarem que na matriz socialista deste Governo não existe esta preocupação de combate à pobreza e exclusão social, é querer manter este combate à pobreza como escudo e não como arma; é continuarem mal na teoria e mal na prática ao seu combate. Afinal a quem interessa manter a pobreza e exclusão social? Certamente nunca a quem lhes declara combate.