No Brasil havia um comentador desportivo que ficou célebre por colocar em questão as imagens televisivas. O dito comentador era um fervoroso adepto do Flamengo e, certo dia, ao comentar em direto um jogo no Maracanã não teve pejo em reclamar e insultar o árbitro desse jogo pelo facto de não ter marcado um penalti a favor do Flamengo. O lance não era claro. Havia a dúvida se a falta tinha sido cometida dentro ou fora da área. Para o comentador, claro, não havia qualquer dúvida. Penalti, vociferou ele repetidamente. O narrador manteve-se em silêncio até que começou a passar o lance na televisão. O comentador, entretanto, apercebe-se que já havia imagens disponíveis e, sempre em direto, diz ao narrador que ia ver as imagens, mas que a sua certeza era total. Tratava-se, garantidamente, de mais um roubo ao “mengão” (nome dado pela torcida ao Flamengo). Passa a primeira repetição. Passa a segunda. E a terceira. E, perante o silêncio do homem das certezas absolutas, o narrador pergunta: afinal… parece… o que você acha… mantem a vossa análise? Ao que o comentador responde – fazendo história! – “a TV tá errada!” Ora, vem isto a propósito, de comentários e análises quase diárias de grandes especialistas da nossa praça no comentário político, económico, social e demais áreas. Em comum costumam usar expressões como “falhanço” ou “caos”. Seja nos transportes aéreos, marítimos, na saúde, na educação, na economia, nas finanças ou no emprego. A receita, em modo sentença, é sempre a mesma: o Governo falhou. Mesmo que a responsabilidade seja de terceiros, inclusivamente de privados, a culpa é da entidade com as costas mais largas no mundo: o Governo Regional. Temos, portanto, uma super-equipa de apontadores do dedo! Acontece que, para além de não arriscarem contribuir para as soluções dos problemas que existem e que ninguém de bom senso pode ou quer ocultar, baseiam as suas doutas análises nas certezas do comentador brasileiro. Ao menos podiam ter a camisola principal vestida, em vez de se arrogarem da independência que não disfarça a cor da camisola interior… E o que nos diz a “TV”, aqui representada pelo Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA), sobre os dados reais nas mais diversas áreas? Vejamos os dados atuais em comparação com 2012. Nos transportes aéreos, por exemplo, diz-nos que houve um aumento brutal de passageiros, embarcados e desembarcados nos Açores. Nos transportes marítimos, também, se regista um aumento significativo de passageiros embarcados e desembarcados. As dormidas mais do que duplicaram, sendo que o crescimento é comum a todas as ilhas. A população ativa tem vindo sempre a aumentar. O desemprego está numa tendência decrescente trimestre após trimestre. Perante estes, e tantos outros dados reais, podemos continuar a não querer aceitar o que nos aparece na “TV”, mas ao menos que se diga, sem rodeios ou pudores, que o SREA “tá errado”!