Opinião

226 minutos a debater o passado com outubro em mira

Na passada quarta-feira decorreu na Assembleia da República o último debate do Estado da Nação desta legislatura. Foram quase 4 horas. O tempo, exato, de que dispunham o Governo e os partidos para discutirem a situação do País era de 226 minutos. A grande maioria desse tempo foi passado à volta dos méritos e deméritos da chamada geringonça. A geringonça, revivemos a nossa memória, começou a ver a luz do dia na noite eleitoral de 4 de outubro de 2015. O objetivo, com recurso à pura aritmética parlamentar até então por estrear, era simples: impedir a continuidade de Passos e Portas nos comandos do País. Passadas horas e dias em reuniões nas diversas sedes partidárias, com avanços e recuos, chegou-se a um entendimento. O caminho passaria, em primeiro lugar, por utilizar a maioria parlamentar para chumbar o programa de governo que a coligação vencedora levaria ao Parlamento. Dito e feito. A coligação caiu perante uma alternativa maioritária. A democracia, em modalidade de estreia, funcionou. O passo seguinte foi assinar, de forma atabalhoada, rápida e em separado, numa sala secundária do Parlamento, acordos de mera incidência parlamentar. O início, convenhamos, não augurava grande durabilidade. Acontece que, passados 4 anos, a geringonça chegou ao fim da legislatura. 4 orçamentos aprovados; 0 orçamentos retificativos; crescimento económico; défice mais baixo de sempre; desemprego a cair e, acima de tudo, muita esperança no futuro. A página dos cortes nas pensões, nos salários, nos subsídios e nos direitos dos trabalhadores foi virada. Demonstrou-se, com uma habilidade ímpar de António Costa, que havia outro caminho. Sem a presença de Diabos! Em Democracia tem que haver sempre alternativa. Esta máxima não se esgotou em 2015. Estamos a menos de 3 meses de eleições legislativas. Momento certo para os eleitores procederem à avaliação dos diferentes partidos que integraram a geringonça e, simultaneamente, avalizar as propostas constantes dos múltiplos programas eleitorais a sufrágio. Será a geringonça repetível? Haverá uma nova geringonça? Composta por quem? O PS conseguirá a almejada maioria absoluta? E o PSD, ficará pelos resultados apontados nas sondagens e comprovados nas europeias ou subirá? Rui Rio sobreviverá à noite eleitoral? E o PP, conseguirá capitalizar uma eventual perda eleitoral do PSD? Muitas perguntas a que os eleitores darão resposta no dia 6 de outubro. Da nossa parte, assumido fã também de desportos motorizados, muito gostávamos que o condutor saído de outubro tivesse o controlo do volante, acelerador, travões e caixa de velocidades. O ritmo de andamento imposto na legislatura que está prestes a findar justifica, em nosso entender, um carro mais solto na próxima temporada.