Este título é uma adaptação da citação “No último século, destruímos a vida social das nossas cidades” de uma entrevista de Charles Montgom-ery à revista Smart Cities. Resumidamente, provoca um olhar para as cidades como verdadeiros espaços de vida social e de como estas podem (devem, acrescento eu) influenciar a felicidade podendo esta ser considerada “uma medida sensata que pode complementar o PIB” - um tema para artigo futuro.
Olhemos para as nossas freguesias rurais e urbanas, a partir de agora identifico-as como espaços de vivências, na Região Açores. Espaços de vivências açorianas que em tempos se construíram para as pessoas, para o andar a pé, rapidamente se renderam à evolução das quatro rodas, à poluição e à comodidade do sair de uma porta e entrar noutra.
Os Espaços de vivências precisam de ser olhados para o uso por parte das pessoas em paralelo com a sustentabilidade ambiental, com o objetivo de atingir mais e melhor qualidade de vida.
Ponta Delgada, como cidade mais populosa dos Açores, com o maior número de freguesias rurais e urbanas, como a maior porta de entrada de turistas - que não deve unicamente servir para constar dos rankings - deveria dar o exemplo.
Falta um plano de acessibilidade pedonal e modos suaves para os Espaços de vivências. Um dos objetivos de Ponta Delgada deveria de ser o de criar uma cidade para todos e prevenir a criação de novas barreiras e anular as existentes.
A dimensão da escala humana, no equilíbrio entre residentes e turistas, deve ser integrada nos espaços de vivências, como elementos com necessidades específicas, mas onde, normalmente, as atitudes comportamentais mudam perante os ambientes que as circundam.
Em Ponta Delgada, continuamos a ter ruas abertas ao trânsito no centro histórico, continuamos a “tomar café” ao lado do camião de cargas e descargas, continuamos a ter ruas com barreiras que dificultam a opção do andar a pé, continuamos a ter ruas que dificultam o uso de bicicleta, sejam estas da responsabilidade municipal quer regional.
Continuamos a fazer muito pouco para devolver os espaços de vivências para, primordialmente, mudanças comportamentais e pelo uso pedonal e de modos suaves. Não é de hoje, é de há décadas que destruímos a vida social dos espaços urbanos e rurais.