José Manuel Bolieiro deixa a presidência da Câmara Municipal de Ponta Delgada no próximo dia 2 de março. O referido anúncio de saída, dado nas vésperas do congresso regional, até pareceu ter sido efetivado sobre um bonito papel de embrulho. Papel esse que até podia bem ter diversos cartões colados a dizer coisas como “dignidade”, “respeito”, “caráter”, “verticalidade”, “humildade”, etc.. Foi, portanto, à data, uma comunicação à Bolieiro. Mas, desde tão cândido anúncio, que fiquei curioso para ver a forma como tal saída se iria processar. Para a maioria, assumo, tratar-se-ia de um mero pormenor. Sem qualquer tipo de importância. Para mim, defensor daquela linha que entende que o pormenor é a essência do resto, era crucial a forma de saída da presidência da Câmara. E não é que a forma de saída da cena autárquica, anunciada à comunicação social no passado dia 19 de fevereiro, foi aquela que eu esperava: uma saída à Bolieiro. E o que é isso? É uma saída de quem não queria sair. Uma saída forçada. Uma saída atabalhoada. Uma saída por uma via (suspensão) que queria ser a outra via (renúncia), mas que não é. Uma saída cuja forma foi objeto de uma tentativa de explicação por Bolieiro, à Bolieiro, e que ninguém percebeu a opção pelas curvas discursivas quando o caminho é uma longa reta até à Horta. No fundo, é uma saída com um tremendo significado político. Mas já lá vamos. Antes, permitam-me, que recupere as declarações de Bolieiro aos órgãos de comunicação social. “Simbolicamente (…) não se trata de um abandono da Câmara Municipal, por isso, não quero seguir a figura de renúncia, que, na prática, será”, disse o ainda autarca. Confuso? Vejamos o que disse em seguida. “Nos termos da lei, uma suspensão de mandato depois, ao fim de um determinado período legalmente previsto [365 dias], transforma-se numa renúncia”. Já perceberam? Vamos a mais uma parte. “Independentemente do resultado das eleições legislativas regionais, não tenciono retomar as funções na Câmara Municipal.” Será mesmo? Ora vejam lá se percebem esta última tirada: “A minha candidatura, enquanto líder do PSD, é a presidente do Governo, mas, em termos formais, é para fazer verificação de poderes como deputado (…) nem numa, nem noutra circunstância, se pode suspeitar que voltarei à Câmara Municipal”, afirmou Bolieiro. Mas que grande trapalhada para aqui vai. Afinal em que ficamos? Se não volta à Câmara porque não renuncia? Ou será que estamos na presença de um “novo” Santana Lopes? Ainda se recordam como saiu temporariamente da Câmara de Lisboa? E é aqui que volto ao significado político da (in)decisão. Bolieiro anda na vida política ativa há mais de 30 anos. É verdade, mesmo que não se fale muito disto por aí. Porque será? Tal como parece que não quer que se diga que entrou na política, em1989, pela porta de uma subsecretaria de muito má memória (Comunicação Social). Bolieiro, pela já longa carreira política, devia saber que em política o que parece é. Tal como devia saber, conforme escreveu Anthony Robbins, que “É nos momentos de decisão que o seu destino é traçado.” Ou ainda, parafraseando Confúcio, que “Saber o que é correto e não o fazer é falta de coragem.” Assim sendo, esta (in)decisão de Bolieiro é – ainda que “simbolicamente” – um autêntico haraquíri político!