Sou contra a despenalização da morte assistida. Por todos os bons argumentos que acerca desta posição foram carreados. Reconhecendo embora que também há ponderosas justificativas a favor. E péssimas e vergonhosas “razões” de ambos os lados. Mas há que decidir, com o subjetivo rigor possível que a essencialidade do tema comporta. Sem laivos de arrogância ou pretensa superioridade moral.
Por isso mesmo, há coisas que ainda surpreendem. Joaquim Machado expendeu esta semana uma teoria simples e acabada sobre o tema: trata-se de fechar a trindade casamentos gay, legalização do aborto e eutanásia, tudo liderado pela esquerda radical, que tem a arrogância da tal superioridade moral. E Machado antecipa-se espertamente, apelidando-a de “gentinha” e “abjeta”. Á convicção purificadora de Machado ninguém escapa: até “Marcelo sorri” e disfarça o atraso da incorporação no bom combate com uma “selfie”…
A explicação contentinha de Machado tem apenas um ligeiro problema: bate de frente, e em várias frentes, com a realidade – pormenor que não incomoda o vaidoso monopolista da virtude. A saber: essa “esquerda radical” conta nas suas hostes com Rui Rio e muitos mais companheiros de partido; aquela gente fina de Cascais, que brinca aos partidos auto-proclamando-se de iniciativa liberal, também apresentou um projeto, certamente para eutanasiar a tia Pimpa e surripiar-lhe a vivenda com piscina na Lapa e – chatice das chatices! – os comunistas, aqueles do PCP, votaram contra… Tudo para disfarçar, inclusive aquela coisa dos dois maiores partidos terem dado liberdade de voto aos seus deputados.
Mas não quero crer que seja o princípio da especialização aplicado à política como terrorismo: enquanto uns dizem vacuidades bem-comportadas, a criadagem mente e insulta?...