A cada dia que passa, sobe em flecha a indignação internacional em relação às declarações arrogantes e à insensibilidade cruel que os Presidentes dos EUA e do Brasil revelam.
Perante a gravíssima pandemia que afeta particularmente os seus dois países, Donald Trump e Jair Bolsonaro parecem empenhados num sinistro campeonato do abominável.
É sempre bom relembrar, e sublinhar, que ambos foram eleitos democraticamente. Porém, as circunstâncias dessas duas eleições foram muito especiais. Trump e Bolsonaro emergiram num quadro de grande ressentimento pelas soluções protagonizadas por políticos convencionais. O eleitorado estava desiludido, saturado do normal e disponível para experiências novas e radicais.
Nesse quadro, quer Trump, quer Bolsonaro, apostaram numa plataforma política antissistema. Propostas tipicamente populistas.
O populismo é sempre antissistema. Seja de esquerda ou de direita. É uma corrente que proclama a sua “pureza” e superioridade moral. Promete regenerar o sistema político, procurando diabolizar os políticos como corruptos, alienados da realidade e centrados apenas nos seus interesses. As soluções populistas são sempre simples, diretas e desintelectualizantes, quase milagrosas.
O populismo de direita tem dois atributos adicionais: o autoritarismo e a xenofobia. Esta segunda característica promove a fratura social, a divisão e a culpabilização. Explora o contraste entre “nós”, os bons, e “eles”, os maus, normalmente as minorias e os emigrantes.
Trump e Bolsonaro são claramente populistas de direita. De todos os defeitos que possuem, os que mais impressionam, nas atuais gravíssimas circunstâncias, são a sua absoluta incapacidade de assumir responsabilidades, de unir e de liderar.
Trump e Bolsonaro são mais do que duas faces do mesmo populismo. Como diria o grande escritor brasileiro Dias Gomes, são dois “canalhistas patifentos”.