Opinião

O Eu e o Nós

Estes últimos acontecimentos quase que fazem lembrar aquelas anedotas clássicas de humor português, não fossem eles tão graves. Vejamos: um cidadão açoriano em quarentena obrigatória num hotel de quatro estrelas, um advogado isento sem quaisquer interesses políticos e um pedido de habeas corpus entram num tribunal. Lá dentro descrevem que as condições a que o cidadão estava submetido não eram dignas e que fazer exercício era uma atividade de que estava privado, que lavar a sua roupa era tarefa que este até tinha que fazer e se calhar que receber mais de três refeições por dia era um incómodo a que este estava submetido, sem necessidade nenhuma. Entretanto do fundo da sala ouvia-se alguém, que não se percebe bem quem era, a exclamar: “isto é uma prisão!”. E lá continuavam a descrever argumentos de desumanidade. No fim, em menos de uma hora, lá conseguiram que o tribunal decidisse que o cidadão queixoso abandonasse imediatamente estas parcas condições e seguisse o seu caminho. E lá foram eles, felizes porque alcançaram a liberdade desejada. Bem… no fim, eles foram os únicos a rir desta história sem piada nenhuma. Caros ouvintes, se é verdade que a liberdade individual de cada um não pode ser posta em causa, também é verdade que essa liberdade só deve ir até ao limite da liberdade dos outros. Nunca, em tempo algum, a liberdade de um só poderá pôr em causa a saúde de toda uma comunidade. Nunca a liberdade de um só cidadão pode ser mais importante que o esforço de toda uma população que desde a primeira hora, sem reticências, se empenhou para que tudo corresse bem. Na minha crónica do passado dia 24 de abril, quando me referia a todos aqueles que estão na linha da frente deste combate e valorizei todo o seu esforço, dei grande relevância ao verdadeiro significado e à real importância de vivermos em sociedade e de todos precisarmos uns dos outros. Fi-lo porque considero e acredito que só assim se conseguem atingir os melhores resultados para todos. O “eu” nunca deverá ser mais importante que o “nós”. Seja qual for o nosso papel, precisamos que todos façam a sua parte, colocando sempre, acima de tudo, o “nós” como personagens principais da nossa vida coletiva. E o “nós”, caros ouvintes, não é relativo, o “nós” deve ser sempre superlativo em relação ao “eu”. Em jeito de conclusão: seja em que instância for, o bem comum deve ser sempre o mote das nossas ações. O bem de todos é o objetivo, primeiro e último, de todas as decisões.