Opinião

Loucos de Lisboa

O título, refiro, desde já, não é uma referência direta aos habitantes de Lisboa. E, muito menos, uma ofensa à minha querida Lisboa. O título é, somente, uma apropriação de uma conhecida música dos Ala dos Namorados e que me ocorreu a propósito do foco da COVID-19 que que se instalou na Área Metropolitana de Lisboa. Foco esse que, à razão média diária de 300 novos casos, está a deixar no ar algum nervosismo, contradições e muitas perguntas sem resposta. A Terra, como se diz na letra que dá título a este texto, parece estar a girar ao contrário. Os rios parecem estar a nascer no mar. Esta espécie de mundo ao contrário está a ter efeitos, também, nos responsáveis políticos e especialistas em epidemiologia e demais áreas técnicas que integram o grupo de experts que, regularmente, reúnem no INFARMED. A última reunião, segundo a VISÃO, prova que os nervos andam à flor da pele. Foi noticiado, e não desmentido, uma alegada “sucessão de irritações” entre António Costa e Marta Temido. Na génese disto, terá estado “a falta de clareza dos dados e o boom de casos em Lisboa e Vale do Tejo”. A questão central parece estar na dificuldade em explicar a origem do foco, sendo que há especialistas que apontavam para o reforço da testagem aliado aos comportamentos de risco da população mais jovem; e outros especialistas que apontam para o facto do contágio estar a ser significativo e não resultado de um maior numero de testes, uma vez que a cada 28 testes realizados 1 é positivo. O Primeiro-Ministro, confrontado com esta ausência de explicação concreta e tendo consciência que o tempo é de ação e não de discussão, decidiu avançar para diferentes níveis de combate à pandemia. Assim, teremos a maior parte do país (Portugal continental) a passar do estado de calamidade para o estado de alerta já a partir do dia 1 de julho; a Área Metropolitana de Lisboa (AML) a passar para a situação de contingência (nível intermédio); e 19 freguesias da AML a manterem o estado de calamidade. Os habitantes destas 19 freguesias, onde se têm vindo a concentrar a esmagadora maioria de novos casos, vão voltar a ter o dever cívico de recolhimento. Ou seja, só devem sair de casa para trabalhar e fazer compras. E os ajuntamentos nestas freguesias dos concelhos de Amadora, Odivelas, Loures, Sinta e Lisboa ficam limitados a cinco pessoas. Simultaneamente, foi aprovado um regime de contraordenações, para quem violar as regras definidas, que vão de 100 a 500 euros para pessoas singulares e de 1000 a 5000 euros para entidades coletivas. Temos, portanto, um recuo na estrada do desconfinamento. Um recuo, para já circunscrito à área geográfica das 19 freguesias dos concelhos acima referenciados, mas um alerta de âmbito geral. De Trás-os-Montes ao Algarve, passando pelos Açores e Madeira. Esta estrada de acesso à “nova normalidade” é extremamente sinuosa. E sabemos que Portugal e estradas, muitas vezes, não combinam com respeito, racionalidade e sensatez… Mas cabe a cada um de nós tudo fazer para evitar conduzir o vírus para outras paragens! E, já agora, voltando à música, não querer ser o “artista principal” do “filme lá do hospital”.