Opinião

PANdemónio

O país está a assistir impávido à desagregação do Partido Animais e Natureza (PAN). O que se passa com a agremiação política que se apresentava como a vanguarda da consciência ambiental e ecológica portuguesa? A criação de um novo partido político deve atender a três fatores decisivos. Um programa inovador, uma representação social nova e quadros dirigentes credíveis e inspiradores. É muito difícil manter a estabilidade destes três fatores. Em Portugal, temos de recuar às eleições legislativas nacionais de outubro de 1995 para analisar a recomposição do sistema partidário português. Nesse ano, Paulo Portas e Manuel Monteiro reconfiguraram a direita. Nascia o eurocético CDS/PP (partido popular). Em 1999 foi a vez da reconfiguração à esquerda, através do surgimento do Bloco de Esquerda, uma convergência de correntes políticas entre o espaço do PCP e do PS. Em 2019 verificou-se a fragmentação do espectro partidário português. À direita surgiu a Iniciativa Liberal e o Chega. À esquerda emergiu o Livre e o PAN saiu reforçado, crescendo de um para quatro deputados. Uns meses antes o PAN elegeu um eurodeputado. O partido parecia destinado ao sucesso. O seu projeto era novo, era diferente e era moda. Seria o futuro? Atualmente o PAN é um projeto em risco de implodir. O eurodeputado e a deputada da República que abandonaram o PAN consideram que o partido vive uma “centralização do poder”, “sem tolerância para com a diferença” e que “qualquer opinião divergente é rotulada de desleal”. Na Madeira o partido também perdeu a sua direção. Nos Açores provou-se, nos últimos anos, que quem mais contribuiu para o avanço de uma plataforma progressista ambiental, ecológica e defensora dos animais foi o PS. Muitas vezes os mais fanáticos defensores de uma causa são os piores inimigos da sua concretização. O Pandemónio em que se transformou o PAN parece confirmar esse fatalismo.