Não deixa de ser irónico, à falta de melhor termo, que de quatro em quatro anos haja quem se dê ao trabalho de vilipendiar a democracia nos Açores.
Enchem o peito de ar, gritando aos quatro ventos que cá, nestas nove ilhas, não se vive em democracia, que não há liberdade, que existe uma ditadura e que, pasme-se, é necessário um novo 25 de Abril. O argumento, estafado, embotado e exaurido, é sempre o mesmo e trazido à liça, também, pelos mesmos de sempre.
O raciocínio elementar não esconde, naturalmente, o traço básico que de democrático só lhe toma de empréstimo o nome.
É, pois, verdadeiramente espantoso que, entra eleição e sai eleição, ano após ano, aqueles que não conseguem persuadir o eleitorado da virtude das suas propostas, considerem mais avisado e, quiçá, mais iluminado estrategicamente insultar a decisão soberana de quem vota, solfejando com amargura que nos Açores não há democracia.
É um pouco como se um aluno reprovado teimasse em dar sempre a mesma resposta na esperança, deste modo, de persuadir o professor a mudar de opinião.
Afinal, a Terra pode ser mesmo plana, é tudo uma questão de ângulo (ou de falta dele). Neste ano eleitoral, era bom que não se maltratasse uma conquista que tanto custou a tantos.
É certo e sabido que não temos que estar todos de acordo, mas era bom que, ao menos, no essencial, os autoproclamados defensores da democracia procurassem respeitá-la um pouco mais.
É que, mal ou bem, o Povo, afinal, é sempre quem mais ordena.