Opinião

Negligência na Ação

Ano Novo Vida Nova. Pelos menos assim todos queremos crer. 2020 foi profundamente marcado pela Pandemia provocada pela COVID-19. Em menos de um mês e ao longo de oito meses o dispositivo de Saúde Pública da Região Autónoma dos Açores e o Serviço Regional de Saúde preparam-se para enfrentar uma crise à escala mundial e da qual não conseguimos, para já, vislumbrar um fim em definitivo.

Detetado no final de 2019 na cidade de Whuan, província de Hubei, na China, o vírus agora denominado SARS-CoV-2 e a Pandemia originada pelo mesmo alteraram profundamente o nosso quotidiano. Em Portugal o primeiro caso registado em território nacional ocorreu a 02 de março na cidade do Porto com história de viagem recente a Itália. Poucos dias depois foram registados surtos em algumas localidades do Norte do País, nomeadamente, em Ovar, Felgueiras e Lousada. Em Ovar foi determinada uma cerca sanitária para conter a disseminação e propagação do vírus. Em Felgueiras e em Lousada não.

Na Região Autónoma dos Açores, mais propriamente a 15 de março, é registado o primeiro caso positivo de COVID-19. Uma mulher de 29 anos com história de viagem recente a… Felgueiras. Estávamos no início.

Passamos a Páscoa, as cerimónias religiosas, os casamentos, os batizados, os funerais, as touradas, os ralis, fechamos e voltamos a abrir.

Tudo a seu tempo com a novicidade de quem lidava e conhecia em tempo real, hora após hora e dia após dia com esta Pandemia.

Chegamos aos zero casos ativos. Única Região do País.

O que se fechou reabriu, o que parou recomeçou paulatinamente de modo a recuperar e a minimizar marcas ao nível social, económico e financeiro.

Voltamos a planear, preparar e reajustar para o que aí viria. Uma 2ª vaga.

População, dispositivo de Saúde Pública e Serviço Regional de Saúde estavam preparados da melhor forma possível atendendo ao inimigo invisível a enfrentar. Afinal de contas, todos tinham mais de nove meses de experiência e já haviam passado por tudo e mais alguma coisa.

No entanto, vivemos atualmente a pior fase do combate a esta Pandemia. No Continente proliferam os casos diários e, desde que possuem, nunca deixaram de ter transmissão comunitária. Presidente da República assume publicamente e politicamente as consequências desta Pandemia.

A Região Autónoma da Madeira não assume transmissão comunitária porque continuam a investigar e a procurar quebrar cadeias de transmissão pese embora o mais de um milhar de casos positivos ativos e as vinte mortes registadas. O Presidente do Governo Regional veio, mais uma vez, a público assumir as rédeas do combate à Pandemia.

Na Região Autónoma dos Açores… baixou-se os braços e conforme nos foi pedido ontem: “demos tempo ao tempo” e “paciência”…

O Secretário Regional da Saúde e Desporto perde-se em “rodriguinhos” politiqueiros e esquece-se de governar.

O Presidente da Comissão Especial, com 5000 euros mensais de remuneração, ri-se quando lhe perguntam porque não se implementa a realização de testes a quem viaje de São Miguel para a Terceira, de modo a não se arrepender como se arrependeu da passividade aquando do Natal e Passagem de Ano.

O Diretor Regional da Saúde, ainda Autoridade de Saúde Regional, é no fundo a “não autoridade” e com o nome do cargo que exerce são praticamente diários os comunicados com dados com “contas de sumir” que envergonham qualquer aluno do 1º ciclo.

E o Presidente do Governo Regional? Alguém o viu ou ouviu? Onde está a personalidade que afirmou em tempos: “A minha opção, ontem como hoje, é que mais vale sermos excessivos na prudência do que negligentes na ação. Infelizmente tem-se existido a muitas incoerências e incongruências em algumas medidas tomadas. Deixo este juízo à própria população.”

Estejam onde estiverem e digam o que disserem, até ao momento uma coisa é certa: estão a ser profundamente negligentes na ação.