Opinião

Impunidade, irresponsabilidade e azar

Quando se constatou que a comunidade internacional era incapaz de exigir à China responsabilidades pela disseminação do Vírus Covid-19, nomeadamente através da assunção de sistemas de indemnização aos países que começaram a ser contaminados em cadeia, ficava aberta a “Caixa de Pandora” da impunidade sobre quaisquer encargos que caberiam aos Estados e respetivos governos assumir nos processos pandémicos.

Hoje, a China não tem surtos pandémicos, vende milhões de dólares de materiais de combate à pandemia e a sua economia já cresce a mais de 3%. A impunidade e a irresponsabilidade venceram!

Quando os governos dos países ocidentais e o povo americano se mostraram impotentes para travar as políticas de saúde do imbecil Trump, de modo a evitar o alastramento da pandemia nos EUA, e quando parte significativa da população daquele país até achou graça às jocosidades com que o seu presidente “mimava” tão grave problema, também ficamos perante um caso de impunidade e de muita irresponsabilidade.

Quando a Europa deixa o autocrata Putin olhar com indiferença para o alastrar da pandemia no seu país, ficando apenas preocupado com a corrida à vacina Sputnik, como se esta fosse a disputa por um foguetão ou míssil intercontinental, e quando despreza a chancela das autoridades de saúde internacionais sobre eventuais malefícios da aplicação em massa daquela vacina, então também somos colocados perante mais um caso de impunidade e de grave irresponsabilidade.

Quando se aceita que o idiota Bolsonaro, ridicularize uma doença que mata os mais pobres do Brasil, restando à comunidade internacional assistir nos telejornais às retroescavadoras a abrir valas em cemitérios improvisados para enterrar os mortos, definitivamente, ficamos perante mais um caso de muita impunidade e de muita irresponsabilidade.

Quando o primeiro-ministro do governo inglês encara o problema da pandemia, como mais alguma coisa que o Brexit resolveria, deixa-se a impunidade e entra-se na total irresponsabilidade, que o contaminado Boris pagou bem caro na cama de um hospital, mas, como só aprende às suas custas, até já teve o troco de não deixar os ingleses voarem para outros países, uma vez que também estes lhe fizeram o mesmo.

Quando os suecos com a mania de terem uma costela viking, olharam com desprezo os outros povos da Europa, porque as suas almejadas genéticas arianas lhes permitiriam resistir ao vírus, a partir da tese, de que uma contaminação geral levaria de imediato a uma imunidade geral, a verdade é que cedo se arrependeram e nada melhor do que aceitar a vergonha de tomar medidas iguais aos demais países europeus.

E como a querer dar razão a algumas vozes da Europa Central, nós, os beirantes do Mar Mediterrâneo: italianos, franceses, espanhóis e portugueses, que nestas coisas não gostamos de ficar atrás de ninguém, pois, religião, futebol, praia e baladas melancólicas, a todos nos junta, vai daí, e somamos mais vítimas de pandemia que muitos países que julgávamos que só por serem pobres teriam mais do que nós.

Nestes povos de matriz civilizacional de tradição greco-romana e judaico-cristã, passamos as irresponsabilidades e mergulhamos nos azares! Em Portugal somos assim, tudo o que nos corre mal, ou é por falta de sorte ou por muito azar!

Nos Açores, damos a essa mentalidade um “toque de classe”: somos imunes ao vírus porque temos músculos dos trabalhos de esforço físico, corremos o risco de contaminação porque isso potencia a adrenalina e o heroísmo, mas, se nos acontece alguma coisa e não aos outros, meu Deus, que desgraça, e se somos contaminados por assintomáticos, raios de vida, que fatalidade!

Olha, somos como somos, e parece que não há nada a fazer! Estamos a pagar por isso!