Opinião

A segunda vaga

2020 foi sem dúvida um dos anos mais difíceis da nossa vivência coletiva. No centro das nossas preocupações esteve a preservação da saúde e a manutenção do trabalho e dos rendimentos, num contexto particularmente desafiante. As palavras pandemia, COVID-19, confinamento, distanciamento social, testes RT-PCR, passaram a fazer parte do nosso léxico comum.

Todos nos tornámos espectadores assíduos da RTP Açores, aguardando notícias sobre o evoluir da pandemia nos Açores e sobre as medidas que a todo o tempo se justificavam adotar.

A todo o tempo foi preciso ponderar. A todo o tempo foi preciso decidir. Aeroportos abertos ou fechados. Ensino presencial ou à distância. Generalização de teletrabalho ou trabalho presencial. Visitas aos Lares ou suspensão de visitas. Horários de estabelecimentos comerciais e restauração restritos ou alargados. Cercas sim ou não.

Em simultâneo foi necessário reforçar a capacidade de resposta do Serviço Regional de Saúde, desenhar e implementar medidas de apoio às famílias e às empresas num contexto de confinamento total. Medidas que respondessem rápido e que não implicassem a deslocação aos serviços. Assim foi feito. Nem tudo foi perfeito. Nem tudo correu bem. Mas fomos capazes de implementar e responder cabalmente às necessidades identificadas na primeira vaga.

No final de 2020 começaram a ser evidentes os sinais de agravamento da situação pandémica e eis-nos chegados a 2021 em plena segunda vaga. Uma grande segunda vaga. Que não atinge as nossas ilhas por igual. Nem tão pouco os concelhos de São Miguel por igual.

Pedimos para ouvir um membro de Governo antes do Natal para perceber que medidas seriam adotadas e que decisões haviam sido tomadas sobre o processo de vacinação.

Alertámos para os problemas de testagem com testes rápidos em Rabo de Peixe sem confirmação por teste PCR (os mais fiáveis), alertámos para o crescimento galopante do número de positivos em Vila Franca (é preciso perceber que entre 24 de novembro e 25 de dezembro o número de casos neste concelho disparou de 4 para 69, de acordo com os comunicados da Autoridade de Saúde).

Votámos a favor da manutenção do Estado de Emergência porque só assim o Governo dos Açores dispõe das condições das ferramentas legais para ampliar o leque de medidas preventivas a adotar.

Apresentámos um pacote de 12 medidas de apoio às empresas, às famílias, aos idosos e às instituições particulares de solidariedade social.

E já esta semana propusemos a criação de uma Comissão Eventual COVID-19 que permite a todos os partidos políticos acompanhar o evoluir da pandemia não só nos aspetos relacionados com a Saúde Pública, mas também o impacto nas empresas e no emprego e no rendimento das famílias, garantindo melhores condições de articulação entre o Parlamento e o Governo, evitando audições sobre esse mesmo assunto solicitadas avulso.

Não procuramos culpados. Não procuramos responsáveis. Procuramos respostas para os nossos problemas coletivos. Procuramos uma ação determinada e eficaz.

É legítimo? Claro que sim. Mais do que legítimo é imperioso que assim seja.

Queremos fazer parte da solução como fizemos até agora. Ouvindo, propondo, acompanhando. Dando, dentro daquilo que é o contexto e a realidade política atual, um contributo efetivo para que se encontrem as medidas e respostas mais eficazes.

Sem grosserias, sem gritarias, sem baixarias, mas com firmeza, convicção e responsabilidade.