É altura de rentrée. A estação parva nunca é completamente vazia, embora nos possa trazer mesmo coisas... parvas.
A saída das forças ocidentais do Afeganistão, determinada por vontade norte-americana e negociada por Trump com os talibãs, mostrou ser um desastre, ainda mais rápido e profundo do que o previsível.
O que nos relembra duas ou três verdades elementares: o poder aero-naval, pese embora a sua eficácia destrutiva, é bem mais fácil do que pôr as "botas no solo"; o guarda-chuva americano tem demasiados buracos e esquece com demasiada facilidade aliados e amigos; os norte-americanos têm atualmente outras prioridades estratégicas a Oriente, que passam claramente pela China, como prova o recente acordo de âmbito estratégico-militar com o Reino Unido e a Austrália, feito aparentemente à margem da NATO.
Tal significa que, para além da bomba humanitária em que o Afeganistão se tornou, e da situação relacionada com os direitos das mulheres, a União Europeia vê-se cada vez mais confrontada com a necessidade de repensar o seu conceito geo-estratégico e de cuidar da sua Defesa e Segurança...
A nível nacional, a morte do Presidente Jorge Sampaio, e o genuíno pesar que provocou, confrontou-nos com a memória de um lutador de veludo, de um democrata que encontrou no Partido Socialista a "casa comum da esquerda" e que se abalançou a decisões corajosas, prosseguindo caminhos até aí inéditos, como foi a sua candidatura à Câmara de Lisboa, com a coligação à esquerda que então estabeleceu.
Enquanto Presidente da República, Sampaio foi amigo das Autonomias e do aprofundamento das suas competências, como se viu em duas revisões constitucionais (1997 em 2004) que apadrinhou.
Para além do humanista culto e do cidadão sereno e corajoso, perdemos um Político dos melhores.