Opinião

Comodidades

Num especial sobre as Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, transmitido pela RTP/A, no passado dia 7 de maio, o atual Presidente do Governo Regional dos Açores, em entrevista, disse que “Na verdade, só na Poesia é que o mar nos une, porque, na realidade, o mar separa-nos em matéria de proximidade, de afetividade e de conhecimento e de contacto de regularidade!”…
À vista dos últimos acontecimentos, podemos supor que, naquele dia, enquanto apelava ao Senhor Santo Cristo dos Milagres para que mantivesse “o seu olhar e a sua proteção sobre nós” e, ao mesmo tempo, anunciava o advento da Tarifa Açores, abrigado no claustro do Santuário, Bolieiro estava (também) a dar outra notícia aos Açorianos.
E assim foi (efetivamente) 3 meses depois, quando, sem ouvir ninguém, e de surpresa, o Governo decidiu extinguir do transporte marítimo de passageiros, viaturas e carga rodada, em época de verão, as ligações para as ilhas de São Miguel, Santa Maria e Flores, suprimindo também, por essa via, a ligação às ilhas do Grupo Central. Os argumentos para essa extinção deviam fazer corar de vergonha os seus mandantes, mas, ao invés disso, perdem-se em frases gongóricas, fazendo contas de sumir e adjetivando esse tipo de transporte de “comodidades de verão”…
Como é que é possível dizer-se que o transporte marítimo de passageiros, viaturas e carga inter-ilhas, digno representante da Coesão regional, que todos apregoam aos sete ventos, é uma “comodidade de verão”, agora descartada, porque é cara e dispendiosa?
Há tantas perguntas a fazer sobre tudo o que disse o Senhor Secretário Regional dos Transportes, Turismo e Energia, no debate de 4ª feira, mas à vista do que pude rever na RTP, e respeitando a limitação de carateres nesta minha coluna, a conclusão só pode ser esta: “Perdoai-lhes Senhor porque eles sabem o que fazem”.
Os créditos deste verso são de Sophia de M. Breyner Andresen, no poema “As Pessoas Sensíveis”.