O Senhor Presidente da República não consegue esconder a sua faceta de admirador confesso da sétima arte. Mas gosta tanto, tanto, de cinema que, volta não volta, decide entrar em cena. Desta vez, decidiu voltar a fazer uma perninha na cena clássica e prévia à votação (e aprovação) do Orçamento do Estado. Como salientava o Expresso “Não é a primeira vez que o Presidente da República alerta para as implicações políticas de um eventual chumbo do Orçamento do Estado. Já o fez em anteriores orçamentos, quando algures por este calendário se instalou a dúvida sobre como terminariam as negociações à esquerda. Mas fá-lo agora com maior dramatismo, perante a fasquia muito mais elevada que os parceiros da velha geringonça estão a colocar ao Governo, ameaçando chumbar o Orçamento.” Desta feita, Marcelo, esquecendo-se propositadamente do seu papel, não perdeu a oportunidade para vir agitar, alto e bom som, o “papão” das eleições. O presidente comentador veio, então, alertar que a eventual rejeição do Orçamento teria “custos tão elevados que incluiriam ter de perder seis meses de fundos europeus que estão previstos na proposta orçamental do Governo para o próximo ano.” Embalado por tantos milhões, lá disse aquilo ao que vinha. O Senhor Presidente afasta a hipótese de o país ficar a viver em duodécimos e, por isso, veio dizer-nos que um eventual chumbo do Orçamento do Estado terá "muito provavelmente como consequência óbvia a convocação de eleições antecipadas.” E até deu uma aula pormenorizada sobre as inconveniências de uma crise política. Começou pelo calendário (“significava um Governo em fevereiro e um novo Orçamento só em abril”); passou pela economia (“Seriam seis meses de paragem na nossa economia e em muitos fundos europeus que precisamos de usar para a reconstrução do país”) e terminou na política (“Eu vou ouvir os partidos na sexta-feira e admito sempre que em democracia me expliquem que um Orçamento aprovado em abril seja muito melhor […] "Admito que me expliquem que vai haver uma solução política mais clara e que será mais fácil alcançar entendimento no Parlamento"). Deixado o recado para os meninos e meninas que parece não se estarem a portar bem, incluindo um “desenho” sobre o presumível veredito das urnas, Marcelo pediu "bom senso" às partes envolvidas na negociação e lembrou que é possível negociar "até ao último minuto". Marcelo sabe, e nós também sabemos, a importância de termos um orçamento aprovado. A diferença é que uns (a esmagadora maioria) estão a pensar no futuro do país e outros (Marcelo estará neste grupo?!) estão a fazer contas partidárias. Apesar de ter a certeza que vamos ter, à semelhança dos últimos 6 anos, um Orçamento aprovado à esquerda, nunca direi não à auscultação do povo. Por isso, eleições? Venham elas!