Opinião

Contas de sumir, “marcelices”, papões e eleições

A política portuguesa, com o chumbo do Orçamento do Estado, deu mais um ar da sua graça. Não havia razão nenhuma para nunca ter sido chumbado um Orçamento do Estado. 47 anos decorridos de Abril, lá chegou o dia. Aos 108 votos a favor do PS não se estava a juntar mais nenhum deputado(a) com idêntico sentido de voto. Faltavam, portanto, 8 votos para a cifra mágica dos 116. Mas havia ainda o plano B: as abstenções. E aqui o suspense, alimentado por muita contra informação, durou até às intervenções finais. Foi posto a circular que os 3 Deputados eleitos pelo PSD Madeira podiam ser os novos “limianos”. Esta possibilidade, conjugada com as abstenções já anunciadas das duas deputadas não inscritas e do PAN (3 votos), impossibilitaria que os votos contra atingissem a tal cifra dos 116. A presente narrativa, para ter alguma credibilidade, até envolveu alegados telefonemas do Presidente Marcelo para os seus companheiros da pérola do Atlântico e diversas entrevistas a Miguel Albuquerque e Rui Rio. E assim se encheu uma horas nas televisões. Com isto e com a outra “marcelice” da audiência ao companheiro Rangel. Mas voltemos ao orçamento. Um orçamento, até apelidado pelo jornal Finantial Times, como virado à esquerda… não teve qualquer aceitação pela esquerda. Após a “queda do muro” em 2015, voltou a ser erigido um robusto muro. O diálogo parecia de surdos. O PS e o Governo a dizerem, numa primeira abordagem, que tudo fizeram para se aproximar das exigências do PEV, PCP e BE. Estando, aliás, disponíveis enquanto houvesse “estrada para andar”. Estes, por sua vez, a reiterarem, a cada intervenção, a intransigência do Governo para uma verdadeira negociação. Por esta altura, já não se vislumbrava a estrada. Por isso, nas últimas intervenções do lado do poder o destaque já estava virado para a substância das propostas colocadas em cima da mesa. Principalmente por parte do BE. E, também, já se agitava o papão do eventual regresso da direita ao poder. Confesso que não percebo este tipo de argumentos. O PS, no poder há 6 anos, com resultados muito positivos para apresentar em todas as áreas de governação, mesmo naquelas onde os titulares da pasta não puxavam no sentido certo, deve fazer uma campanha pela positiva. Como? Evidenciando os seus méritos na governação. Assumindo os fracassos e erros. Mudando o que há para mudar. Fazendo escolhas acertadas. Demonstrando o que quer para o País. Explicando claramente como pretende fazer. Fixando metas e respetivo calendário. Em suma, colocando o foco em si e no País e nunca, nunca, agitando fantasmas e papões associados aos partidos adversários. Ainda para mais quando o papão a que se referem tem o rosto de Passos Coelho, o qual sendo factualmente associado a um período de muitas dificuldades e sofrimento impostos aos portugueses, foi a votos e… obteve mais cerca de 250 mil votos do que o PS. Deixemos, pois, a conversa dos papões. E também das penalizações e das culpas pela crise. Não infantilizemos os eleitores! O povo é sábio. Que cada um apresente o seu projeto. Que cada um explique como e com quem pretende governar. A decisão, essa, fica nas mãos dos eleitores. Não tenhamos medo da festa da democracia. Que venham as eleições!