Opinião

Crises

O chumbo do OE para 2022 interrompe uma forma de governar que iniciou um novo ciclo político.
Em 2015, e à semelhança do que já tinha acontecido ao nível autárquico, a esquerda entendeu que era possível entendimentos ao nível da governação do país. E assim foi possível reverter as mais gravosas medidas do Passismo, que iam gostosamente "além da Troika", aumentar o salário mínimo de forma sustentada, descongelar as carreiras da Função Pública e perspetivar um alívio gradual da carga fiscal.
Numa altura decisiva para o país, os partidos à esquerda do PS, entenderam, apesar das muitas medidas sociais inscritas na proposta de OE, e doutras anunciadas, designadamente ao nível da legislação laboral, que era altura de esticar a corda, e chumbar desde logo a proposta de Orçamento na generalidade, impedindo assim mais tempo para acertos ao nível da especialidade do diploma.
E embora se digam dispostos a negociar, a verdade é que, com esta posição, revelam indícios objetivos de auto-afastamento e de regresso à posição clássica de protesto nas ruas.
Tudo isto numa altura em que a "Direita foi para obras", e Marcelo se antecipou à reserva institucional, e verdadeiramente já decidiu antes de cumpridas as formalidades constitucionais: vamos para eleições antecipadas.
Caberá assim ao povo soberano encontrar uma solução democrática, estável e de progresso.
Por cá, o arranjo a cinco igualmente estremece, com ameaças de voto contra o Orçamento da Região. Apesar de acordos escritos. E de críticas arrasadoras a membros do governo por parte de partidos formalmente coligados e partes do mesmo Executivo. A confiança recíproca atingiu um ponto tal que alguma nobreza iliberal já declara que "prognósticos só no fim do jogo". Haverá Pinto sem ovo?
Entretanto, Bolieiro gaba-se de não ter uma perspetiva "inauguracionista"... O que é perfeito, quando não há nada para inaugurar!