A vida político-partidária nacional está em verdadeira ebulição. A dissolução da Assembleia da República, a qual começou por ser uma espécie de ameaça geral à geringonça, está agora em modo “bomba relógio”. E a verdade é que o relógio está a funcionar em (quase) todas as sedes partidárias. Proponho, por isso, que me acompanhem numa análise mais detalhada aos meandros da vida partidária. Para não ser demasiado exaustivo, decidi fazer uma abordagem por blocos políticos. Ora vejam:
I – Direita
A direita portuguesa está desde a dupla Passos-Portas em verdadeira negação. Rui Rio até a própria classificação “de direita” omite e renega. Inventou um PSD do e ao centro. Esta visão conduziu o PSD de Rio, nas legislativas de 2019, a um dos piores resultados eleitorais em eleições legislativas. Rio conseguiu obter percentagem inferior a Santana Lopes em 2005 (27,9% e 28,77% respetivamente). Em termos de votantes, Rio conseguiu que o seu PSD ao centro ficasse a cerca de 200 mil votos do PPD/PSD de Santana Lopes. A performance de Rio é ainda mais trágica porque a sua indefinição ideológica fez com que André Ventura passasse de polémico comentador da CMTV a líder da extrema-direita em Portugal e parceiro nos Açores. Rio vem agora, à boleia das últimas autárquicas, tentar agarrar-se a méritos de outros para evitar ir a jogo antes das próximas legislativas. Esta atitude diz tudo a seu respeito. Aguardemos pelo veredicto dos militantes do PSD e depois, em caso de vitória interna, do eleitorado. Passemos ao PP. O “Xicão”, que herdou um CDS-PP reduzido a 5 Deputados e ainda com menor peso no poder local, está apostado em substituir o anterior epíteto de “Partido do táxi” por “Partido da trotinete”. O caos e debandada instalada vai culminar, a confirmar-se a vontade desta direção centrista, na provável eleição de um ou, no máximo, dois deputados nas próximas eleições legislativas. A IL, perante o atual cenário, não precisará de fazer muito para crescer substancialmente.
II – Esquerda
O cenário à esquerda também não é muito animador. A esquerda moderada – o PS – está aparentemente unida em redor de António Costa. Mas como diz o sábio povo, as aparências iludem. E a verdade é que, desde há muito, que são noticiadas movimentações e ambições dos chamados “jovens turcos”. O rosto deste “movimento” é, claramente, Pedro Nuno Santos. Mas haverá mais. Muitos mais. E todos com a mesma vontade. Julgo que vão ter de esperar mais uns tempos. António Costa está aí para as curvas. Vamos à chamada esquerda radical. O PCP está em acentuada perda eleitoral. Não é perseguição, é factual. As autárquicas de 2017 e de 2021, bem como as últimas legislativas (2019), demonstram inequivocamente esta realidade. Vamos a ver se há outra realidade… O BE, como é um partido residual em termos autárquicos, consegue escapar melhor ao escrutínio. Mas a verdade é que também está numa tendência decrescente. Marisa Matias, uma das estrelas da companhia, é prova disso. Nas presidenciais de 2021, face a 2016, perdeu 300 mil votos (passando de 10% para 4%). Aguardemos, pois, pelo feedback das urnas para analisarmos melhor as recentes opções das atuais lideranças à esquerda…