Opinião

Tricas, Trocas & Trafulhices dos Três Tristes Tigres

Aquilo que me parece é que esta hidra governamental está a conseguir deixar uma forte marca no tempo. Indelével. Quando um diz mata, o outro diz esfola e o outro ainda, tipo carro vassoura, apressa-se a vir limpar os vestígios mais indesejáveis. O problema agora é que este modus operandi começa a ficar cada vez mais complicado de se manter vivo. Já não é só um gatinho escondido com o rabinho de fora, mas sim três enormes onças, apertadíssimas, atrás de um estreitíssimo tubo metálico que sustenta aquele conhecido sinal de trânsito triangular, de vivos contornos a vermelho e de expressivo ponto de exclamação ao centro! E então no que toca à diferença entre o que é proferido antes das eleições, sejam elas quais forem, e aquilo que é emendado depois das mesmas, é uma clara ilustração do que acabei de afirmar.
A bem dizer, tudo começou antes ainda do seu início (e esta agora fui eu... aparenta contradição, mas nada disso!...). Em plena campanha eleitoral para as legislativas açorianas, o líder do PPM/A afirmara, perentoriamente, que integraria uma coligação de Governo com o PSD/A, mas que não apoiaria a nomeação do Dr. José Manuel Bolieiro para Presidente do Governo Regional. Palavra dada, palavra honrada. Poucos dias depois, ei-lo, convenientemente a afirmar o seu oposto e a contribuir, de modo insubstituível para o efeito. Sim, Paulo Estêvão, o mesmo líder parlamentar de um dos partidos que suporta o governo e que, imediatamente após estas últimas eleições, vem publicamente afirmar que ficou claramente comprovado que quem tira o tapete às coligações acaba mesmo a dar-se mal! Bom... será que, com o seu habitual e cáustico sentido de humor, se referia a si próprio ou, estará já ele esquecido da miséria provocada, também há não muitos dias, ao vivo e a cores, ao ainda Senhor Secretário Regional dos Transportes?
Não menos baralhado, eufemisticamente dizendo eu assim, anda há muito, o nosso Vice-Presidente Artur. Também pelas vésperas deste novo elenco governativo, candidato a deputado, portanto, o caríssimo afirmava então - a caneta de tinta permanente e respetivo mata-borrão - que todos teríamos de pensar muito bem se realmente queríamos quem apenas pretendia a alternância governativa (o PDS), se realmente queríamos quem defendesse o liberalismo económico que se sobrepõe às necessidades do povo (o IL) ou se realmente queríamos dar força a uma extrema-direita que discute propostas contrárias aos direitos humanos (o Chega). Fosse isto um livro de banda desenhada e, no outro quadradinho, vê-lo-íamos empunhando a mesma canetinha de tinta permanente e respetivo mata-borrão, sorriso estampado no ruborizado rosto, e assinando os acordos que lhe permitiriam assumir o cargo que hoje ocupa.
Quanto ao Sr. Presidente Bolieiro, no lugar de ilustrar suas inseguranças e confusões próprias de seres humanamente terrenos, opto por humildemente deixar um pedido de esclarecimento àquele que será o primeiro e último defensor da Região Autónoma dos Açores... Sr. Presidente: humilhar-se aos caprichos diários de todos e cada um dos pequenos partidos da direita regional é mesmo a melhor forma de cumprir e fazer cumprir a divisa da nossa Região Autónoma "Antes morrer livres, que em paz sujeitos"?