Uma das colas que cimenta as sociedades democráticas é o relativo consenso sobre os factos que enformam o quotidiano coletivo. Quando as opiniões começam a valer tanto quanto os factos, corrói-se a base comum sobre a qual assentam os fundamentos e os princípios da nossa convivência democrática. O debate público deixa, pura e simplesmente, de ser suportado por argumentos lógicos, baseados em factos concretos, para passar a ser apenas uma mera troca de opiniões. Não raras vezes, elevam-se os decibéis como se um berreiro, ainda que convicto, fosse suficiente para contrariar um facto. Ora, quem assim procede contribui para a infantilização do debate público. Não é simplificando temas complexos que estes passam - como que por magia - a ter soluções simples. Quando os factos contam o mesmo, ou menos, que uma opinião infundada, não é a liberdade de expressão que está em causa. É a intoxicação do debate público que desqualifica a democracia e torna, aos poucos, o ar menos respirável. Quem se alimenta exclusivamente da indignação, pouco tem para oferecer em troca sem, na prática, nos diminuir como sociedade.