Opinião

O Solvente...

... é aquele que dissolve. Entre nós, aquele que dissolve é o Marcelo das "selfies" : Presidente nenhum dissolveu mais Parlamentos do que Marcelo, que já igualou o máximo de dissoluções da AR e, afoito Governador-Geral das Colónias, estreou a dissolução dos Parlamentos Regionais!

Acontece que o nosso semipresidencialismo tem um forte pendor parlamentar, e, o Governo não depende politicamente do Presidente, justificando-se esse poder funcional de dissolver em garantir (ou repor) o regular funcionamento das instituições democráticas -- o mesmo é ainda dizer que o PR deve ser um garante da estabilidade das instituições, e não o contrário! Pelo que o suporte político de legitimação do Governo é o Parlamento e não um "Presidencialismo de Primeiro-Ministro"!

Assim sendo, errou crassamente o constitucionalista Marcelo ao dissolver, só por chumbo orçamental; ao amarrar, (amarrando-se) logo na tomada de posse do anterior Governo da República, o destino governamental ao fado do seu Primeiro-Ministro, e logo-logo voltou a dissolver, criando precedentes, que o obrigaram agora a tridissolver, quando a atual crise só tem a ver com comportamentos pessoais daquele que está Primeiro-Ministro!

Preso no seu labirinto, ferido no ocaso do poder, Marcelo já não narcisa afetos, nem vai exibir-se ao multibanco que dá serventia a Belém: mal com a estabilidade por amor ao partido, acabou desamigado do partido, que mata a estabilidade na tentativa de salvar o seu líder. E a Marcelo, que desbaratou a autoridade de impor e influenciar, resta-lhe brincar às corridas de quem dissolve mais depressa!

Marcelo não resistiu ainda a ficar com as primícias da dissolução dos Parlamentos autónomos, rebaixando os seus Representantes a moços de companhia, e desprezando o seu sistema parlamentar. E quando já se cansa o solvente da coisa soluta, a pintura só pode borrar com a "solução" ... dissolvida.