Paul Krugman, famoso pela sua coluna no New York Times e pelo Nobel da Economia de 2008, foi dos primeiros a manifestar sérias reservas pela entrada em circulação do euro, em 2002.
Num texto profético, de 2001, Krugman salientava a impreparação das economias da zona euro e as vastas disparidades económicas que resultariam da falta de uma coordenação fiscal e de um orçamento com capacidade de corrigir os desequilíbrios económicos e financeiros - o orçamento da UE ronda os 120.000 milhões de euros por ano mas representa apenas 1,10% do PIB da EU-27.
Krugman estabeleceu mesmo um paralelo entre possíveis consequências da adopção do euro e a crise financeira do México dos anos 90 - provocada pela dolarização da economia mexicana - referindo dois aspectos curiosos na sua previsão de 2001: a “zona de risco” seria a periferia da UE; e a chave da solução dessa crise seria a Alemanha.
Só que no presente, mesmo considerando o enorme excedente comercial germânico, falar na solução Alemã tem muito que se lhe diga. Primeiro, a sua classe política juntou à tradicional obsessão por uma moeda estável, baixa inflação e deficits controlados, um desprendimento de complexos relativos à II Guerra Mundial. Segundo, a diplomacia alemã sintonizou-se com o seu contribuinte nacional hoje escandalizado com o deficit grego, a fuga ao fisco em países da periferia e casos de corrupção na Bulgária e na Roménia. A nova receita é cada um por si, em vez de um com todos.
Foi neste quadro que o Governo de Sócrates impôs no Orçamento para 2011 uma lista de sacrifícios capaz de matar um touro.
Porém, mais do que o crucificar pelas opções que a conjuntura internacional impôs a 16 dos 16 governos da zona euro, o que esta crise sobretudo revela é que os instrumentos de concretização do formidável projecto de construção europeia estão muito longe da grandeza desse sonho.
Destaque: esta crise revela que os instrumentos de concretização do formidável projecto de construção europeia estão muito longe da grandeza desse sonho