Opinião

Defender a Escola pública

Não são de hoje as fragilidades estruturais do nosso País em matéria de educação. Mudar e melhorar o sistema educativo tem sido um processo difícil, marcado por fortes resistências. As famílias reagiram mal, perante a reorganização do sistema escolar, quando se fecharam ou unificaram escolas. Os professores tiveram dificuldade em colaborar na diversificação da oferta educativa, que revalorizou o ensino profissional ou criou alternativas de formação, para não falar do difícil processo que tem sido a avaliação, com vista à melhoria do desempenho, dos professores e dos alunos. A escola pública é um pilar do nosso sistema de ensino. O Estado tem a obrigação de garantir o acesso de todos à qualificação académica e profissional, sem por em causa a exigência de rigor, profissionalismo e qualidade no ensino proporcionado. Nesse sentido, é fundamental ter uma oferta formativa, onde cada cidadão possa adquirir as ferramentas necessárias para poder investir, trabalhar, criar e contribuir para o seu próprio desenvolvimento e da sociedade a que pertence. O que pretende o PSD com o “cheque-ensino” e a privatização da gestão escolar? Fomentar a desigualdade de acesso à escola e introduzir uma gestão empresarial nas escolas. O desígnio da escola pública é ser democrática, exigente e responsável pela qualificação dos cidadãos. Com o “cheque-ensino”, afirma o PSD, os cidadãos poderiam escolher a escola que desejassem para os seus filhos. E o que se entende, neste caso, por escolha? Qualquer escola privada, ao contrário da escola pública, pode aplicar critérios de selecção e recusar a inscrição de um aluno, por uma questão académica, nível sócio-económico dos pais ou alegar não ter vaga. Defender o estado social, mesmo que tenhamos menos recursos para o concretizar, é acreditar na importância do ensino público, desde o pré-escolar ao superior, como principal forma de assegurar o desenvolvimento integrado do nosso país. Ninguém nega o direito ao ensino privado, mas esta é uma oferta educativa que deve pautar a sua diferença apenas pelas condições que oferece às famílias. Porque, em termos de rigor, profissionalismo, exigência e qualidade do ensino/aprendizagem, a escola pública tem de dar, sempre, o exemplo, investindo na excelência e promovendo a inovação. Referia um responsável do PSD Açores, após visitar o Campeonato das Profissões, em Ponta Delgada, que esta excelência, no caso da formação profissional, não é reconhecida pelos empregadores. Então, que se mude o modo como funcionam essas empresas que não reconhecem nem valorizam o contributo destes jovens qualificados. O que não se pode por em causa é a capacidade técnica e de inovação que os jovens açorianos têm demonstrado em várias áreas do ensino profissional, ganhando prémios nacionais e até internacionais, competindo com outros, oriundos de países ditos mais desenvolvidos. Temos de acreditar no nosso próprio potencial, ser ambiciosos, se queremos reduzir o défice estrutural em matéria de educação e formação, como aliás tem vindo a acontecer, mesmo que lentamente. Não precisamos que outros nos digam que a educação é importante. Todos sabemos que sem ambição, dificilmente iremos crescer ou vencer.