Quase que pegou! A poucos meses das eleições europeias a malfadada palavra “austeridade” esteve quase proscrita do léxico do Governo da República, sendo substituída e aceite pela palavra “resultados”, com agrado compreensível de quem necessita, para variar, de um pouco de esperança no futuro, incluindo a imprensa e a opinião publicada em geral.
Portas – o ilusionista! – anunciou, por diversas vezes, o fim do protectorado e da ocupação externa e, por isso, da alegada “imposição de austeridade”, como se depois da troika, por mágica, tudo voltasse à situação pré-resgate, apenas com uns “cortezinhos” no povo que trabalha ou que lamentavelmente se aposentou. Aliás, o célebre e tão pouco duradouro relógio de Portas em contagem decrescente tornou-se a melhor caricatura de como o novo “1640” afinal tinha um sabor de regresso ao Portugal das trevas – nem sequer ao Portugal do reabilitado medievalismo “fermentador do progresso”!
Depois do “fim da troika” o Governo passou para o slogan da “saída da Troika”. O debate foi tão longo quanto inútil, aborrecido e confuso. Todos, seguindo o roteiro, foram opinando, iludidos pelo que sabíamos e não sabíamos da Irlanda. Passado algum tempo percebemos que as alterativas propostas – a saída limpa, um plano cautelar e um segundo resgate – não dependeriam de uma decisão soberana ou sequer formalmente portuguesa e em pouco diferiam nas suas consequências para o país.
O destino alemão esteve e está em cima da mesa: Merkel não quer dizer ao seu eleitorado que dará mais dinheiro aos países intervencionados nem que a sua estratégia de “austeridade punitiva” contra a crise das “dívidas soberanas” falhou; por isso, por muito que discutamos o assunto, a Alemanha decidiu ou decidirá. Se isso é um conforto, duvido…
Com a proximidade das eleições europeias a propaganda do fim da “austeridade” e dos “bons resultados” aumentou. Pior! Tornou-se fundamental na campanha dos governos da União Europeia, atemorizados pela enorme probabilidade de perderem eleições para a esquerda e extrema-direita. Esta “solidariedade de sobrevivência”, temente dos eleitores, charlatã no elogio mútuo, no nosso caso quanto “milagre económico português” (milagre, porque invisível) tem-se revelado tão essencial para Passos Coelho como para a tralha “merkeliana”: as espetativas em tempo pré-eleitoral, sempre foram mais poderosas do que as realidades que são apresentadas como fins de época…
O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, falou do encanto dos mercados com o país, bem como da descida do desemprego, mas negou, por duas vezes, cortes futuros nos funcionários públicos e nos pensionistas. A direita governativa não o aplaudiu e continuou a agir e a falar como se só depois das eleições europeias fosse possível descortinar o que poderiam ou não fazer. Na área do governo falou-se de que os impostos iriam ser suavizados na sua intensidade e que o salário mínimo poderia subir. Ninguém reconfirma nem desmente; um incauto, talvez o Primeiro-ministro, deixou cair que iriam ainda cavar nos rendimentos dos portugueses mais mil e setecentos milhões de euros!
Mas não é possível enganar para sempre, nem disfarçar o indisfarçável. O Governo age como se quisesse disfarçar o enorme “elefante da austeridade e da pobreza” que tem na sua sala. Por muitos napperons e candeeiros que coloquemos em cima do elefante, ele está lá, sendo impossível não reparar nele.
Não adianta falar do fim do resgate quando o Documento de Estratégia Orçamental é, na prática, uma extensão do programa da Troika.
Não adianta fingir que a austeridade acabou quando fontes do ministério das finanças anunciam cortes permanentes nos pensionistas e funcionários públicos.
Não adianta “bradar” pelo milagre económico quando 18,7% da população, 1,9 milhões de pessoas, recebiam menos de 409 euros por mês em 2012.
O “paquiderme” está na sala e infelizmente é bem grande!