Opinião

Os números e os protagonistas…

Na discussão política infelizmente os números dizem muito pouco. Enquanto políticos temos responsabilidades, enquanto protagonistas deste debate, é certo, pois muitas vezes o ruído na discussão dos temas é de tal ordem, que a troca de argumentos extravasa qualquer tipo de racionalidade, passando a ser emocional, mas a sociedade civil enquanto participante desta discussão não pode contribuir para profundar o problema. Neste campo os números e as estatísticas são permanentemente desvirtuados ou empolados, porque não são analisadas convenientemente, como se fossem argumentos emocionais baseados, única e exclusivamente, na vontade das partes. Exemplo da nossa Balança Comercial Todos nos regozijamos em Portugal com os números das nossas exportações e com a vitória obtida com a melhoria da nossa balança comercial. Ouvimos, portanto, o “core” da mensagem do que foi afirmado pelo Governo e pelos tecnocratas da Troika e das televisões, mas não escutamos o debate político que foi feito à volta deste tema. Ouvimos a notícia, mas desligamos, talvez por cansaço, por esgotamento ou por desilusão, da virulência das permanentes discussões entre as partes envolvidas. A notícia, para variar, parecia-nos boa e provável, não interessava pois, ouvir alguém de um partido ou de uma tendência dizer que as importações estavam insustentavelmente baixas porque não havia dinheiro para consumir ou que as exportações assentavam numa parte muito significativa em combustíveis. - “Que disparate! Uma refinaria somente influenciar nossas exportações” - Afirmaram na televisão os habituais jornalistas de direita travestidos de especialistas económicos, deslumbrados com o que o seu reflexo diz, sobre as instituições e sobre o futuro. Mas quando a notícia mais recente refere que o défice da balança comercial aumentou 333,3 milhões de euros e a taxa de cobertura diminuiu 1,2 pontos percentuais (p.p.) para 80,7%, ninguém referiu porquê. A analisar os últimos números do INE aprofundadamente verificamos que para estas “reduções nas exportações e importações, em fevereiro, contribuiu a paragem geral programada para manutenção da refinaria de Sines no mês de março.” As nossas “contas” Regionais Nos Açores, basta ouvir uma sessão plenária do Parlamento ou escutar algumas organizações representativas do sector para perceber que o debate é muitas vezes totalmente emocional e pouco produtivo. Assistimos no Parlamento, com ampla divulgação mediática, à oposição permanentemente dizer que o Governo não paga à maioria dos fornecedores para não ter défice nem dívida nas suas Contas Públicas. Mas será que ninguém leu os números e percebeu que as nossas Contas Públicas Regionais, que estão equilibradas, validadas pela Troika e pelo INE, já incluem as dívidas a fornecedores, não podendo ser, portanto, verdade o que afirmam? Na semana passada numa conferência organizada pelo Açoriano Oriental sobre o turismo, escutava alguns dos seus participantes dizer que o sector padecia dos mesmos problemas há 25 anos, outros afirmavam que nesta evolução “nem tudo foi assim tão mau”. Ninguém se lembrou de reparar nas estatísticas, de que há 25 anos praticamente não havia turismo, existindo meia dúzia de hotéis nos Açores e que as dormidas rondavam as 200.000, enquanto hoje ultrapassam 1 milhão? A democracia não convive bem com a superficialidade do debate. Quando a discussão Política, está remetida ao duelo das “partes”, entre os que estão “contra” e os que estão a “favor”, desaproveitamos o debate, desbaratamos a mensagem, empobrecemos o cidadão e desvirtuamos a democracia. Temos todos responsabilidades nesta matéria.