Veio aos Açores num exercício de geocaching ultrarrápido, acionou o cronómetro e foi um tal reunir e apertar mãos, à procura de tesourinhos para soundbite. Passos Coelho fez uma visita relâmpago deixando, nessa sua pressa, o reflexo da forma como realmente encara os Açores: como um sítio para se passar o menos tempo possível. Aliás, já cá todos compreendemos que Passos Coelho só visita os Açores quando quer dar uma ajudinha a Duarte Freitas ou quando vem para exibir a cabeça de lista pelos Açores às próximas eleições legislativas, Berta Cabral. De resto, nem vê-lo.
Passos Coelho e a sua trupe dedicaram-se, até hoje, a arquitetar decisões e diplomas legais quem muito têm prejudicado os Açores. Desde a “benemerência” do abaixamento de impostos sem que fossem repostos os valores das transferências do Estado para a Região, passando pela recusa da ajuda a título de solidariedade nacional aquando das intempéries que assolaram os Açores em 2013, a esmagadora maioria das decisões do governo de Passos Coelho concernentes à nossa Região nada mais foram do que o rosto de uma permanente desconsideração.
Este governo do PSD/CDS-PPnão tem sido bom para os Açores. Podem os habituais arautos sociais-democratas prelecionar o que quiserem à volta de uns frouxos sinais de retoma económica que, naquilo que a nós (Açorianos) concerne, as evidências continuam as mesmas: Passos Coelho não respeita os Açores e muito menos respeita a nossa Autonomia. Já se perdeu a conta ao número de ataques desferidos por legislação nacional deste Governo social-democrata ao Mar dos Açores. Sim, porque este Mar é tão ou mais dos Açorianos. Nem as posturas unânimes dos partidos com assento na Assembleia Legislativa Regional demoveram Passos Coelho da tentativa constante de espoliar o nosso Mar e os seus recursos, completamente oblívio ao facto da existência de uma gestão partilhada que está consagrada tanto na Constituição da República Portuguesa como no nosso Estatuto Político-Administrativo. Ou seja, Passos Coelho tem tanta lata que nem se inibe de atropelar a Lei Fundamental do país, que lhe é imensamente superior.
E vem passear aos Açores, acompanhado pela nona legião (regional) que o escoltou, numa cronometrada entre São Miguel e Terceira. Sim, porque para Passos Coelho, os Açores não são nove ilhas. É que nem são oito, como já foram para Berta Cabral. São duas só. O resto nem vale a pena. Mas ao menos encontrou os soundbites que procurava. Segundo Passos, por cá a liberalização do espaço aéreo é um “gatilho” que fará disparar os números do turismo. Muito bélico. Ao menos foi um upgrade face à ridícula comparação que Duarte Freitas fez daquela com a queda do Muro de Berlim. Depois, promete arranjar soluções para a descida do preço do leite quando o problema já se instalou há algum tempo e há muito que os Açores labutam afincadamente para o resolver, nas mais diversas instâncias. Só veio confirmar o que já sabíamos: que o Governo da República não tem feito o necessário para defender os Açores na questão do leite, guardando irresponsavelmente a questão para a campanha eleitoral. Vem tarde.
Mas mais…tem ainda o desplante de ir a Rabo de Peixe e criticar o sistema de proteção social dos Açores, que a milhares de Açorianos tem ajudado a lidar com medidas que ele próprio criou e que jogaram para a pobreza incontáveis famílias portuguesas, levando Portugal a níveis de indicadores sociais só comparáveis aos do início do século… É preciso ter lata e não ter vergonha. Vir cá dizer-nos o que fazer quando ele próprio, na República, fomenta a cultura do português empobrecido mas agradecido, de mão estendida na fila da sopa dos pobres? Não obrigado. Senhor Primeiro-Ministro, só se deve pregar aos peixes quando se tem moral para o fazer. E Vossa Exa., lamento informá-lo, não a tem.