Os resultados são claros e inequívocos! A coligação PàF ganhou as eleições e por isso deve ser convidada a constituir governo pelo Presidente da República.
Mas significa isso que tudo ficou na mesma após 4 de outubro? Que a coligação deve continuar a governar do mesmo modo, não se desviando um milímetro do rumo austeritário seguido até agora?
Não! Os resultados políticos e a matemática parlamentar implicam que a coligação de direita procure o mínimo denominador de consenso para que possa exercer o seu mandato. (mas já lá vamos…).
Sim, - para regozijo da direita e de alguns outros… - o PS e António Costa perderam as eleições.
Mas significa isso que o PS deve ficar a “olhar para o chão”, com pena de si próprio, e “assinar de cruz” tudo o que lhe for colocado à frente? Deve o PS entrar num processo autofágico de redefinição de liderança e de rumo, deixando o país entregue exclusivamente à direita para que façam o que lhes der na gana?
Não! O PS tem de ser um partido responsável, que se preocupa com o futuro do país e com o respeito pelo sistema democrático.
Isto deve ser expresso, na prática, na complicada tarefa de compatibilização de vários princípios imperativos: o respeito pelos resultados eleitorais; contribuir para estabilidade política nos próximos quatro anos; não comprometer a matriz dos compromissos assumidos pelo PS para com os portugueses.
Toda a ação do PS deve respeitar igualmente cada um destes princípios, sob o risco da credibilidade do partido ficar seriamente comprometida, tendo consciência, também, que para o resultado final desejado os outros partidos, nomeadamente, a coligação de direita tem o papel crucial.
Então como deve funcionar isto tudo?
Voltando ao papel da PàF, estes devem procurar ter um diálogo sério - e isto não tem acontecido até agora, tendo em conta a enorme arrogância com que têm encarado a negociações - com PS e revelar em que medida estão dispostos a ceder.
Para qualquer observador mais atento o óbvio seria a PàF procurar o PS para um compromisso, mas, incrivelmente, e de uma forma reveladora, foi ao PS que coube essa iniciativa.
Percebo que a PàF não queira governar com o programa do PS, mas também não se pode pedir ao PS que aceite viabilizar um Programa e um Orçamento que contradiga todos os seus compromissos eleitorais.
Pode o PS, por exemplo, viabilizar um programa, sem cedências da PàF, que vai cortar 2400 milhões de euros nas pensões, que vai agravar impostos em 800 milhões de euros ou que vai criar um sistema de segurança social para ricos e outro para pobres?
Não pode, nem deve! Ultrapassar estas linhas vermelhas, romper com a palavra dada, significa tornar o PS indistinto da coligação de direita, portanto, irrelevante em termos políticos, uma mudança tectónica no sistema político português onde a alternativa política passará inevitavelmente para a esquerda do PS.
Deve o PS deixar o país no caos, caso a coligação de direita se recuse a fazer o desejável entendimento?
Não! Neste caso o PS deve assumir as suas responsabilidades - evitando o caos político e económico – e procurar um entendimento estável para quatro anos que garanta a governabilidade e o cumprimento dos nossos compromissos externos.
Cabe também aos restantes partidos demonstrarem se são meramente veículos de protesto anti-poder inconsequente, como alguns pânicos imbecis propalam, ou se se enquadram naqueles partidos responsáveis da alternativa política disponíveis nas alturas difíceis.
A resposta a este repto condicionará em muito o funcionamento do sistema político português.
O interesse nacional assim o obriga.