O novo elenco governamental da República já entrou em funções. Entre caras conhecidas, “novos” ministros tomaram posse, e cedo surgiram as polémicas. Para Ministro da Saúde foi apontado Leal da Costa, que, face a uma reportagem de um canal televisivo que denunciava as condições precárias de alguns dos serviços de urgência nos hospitais públicos, afirmou que tinha gostado do que havia visto e que não via nada de errado com as condições apresentadas pelas imagens televisivas….Como Ministra da Cultura, Igualdade e Cidadania, Teresa Morais, antiga deputada do PSD, que deu a cara pelo partido aquando da aprovação da lei que permitiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em 2010, defendendo então que o acesso dos homossexuais ao casamento civil não havia sido a solução proposta pela maioria do grupo parlamentar, mesmo tendo o Tribunal Constitucional decidido pela constitucionalidade daquela alteração legislativa. Defendeu a agora Ministra que não se tratava de uma questão de constitucionalidade mas sim da escolha política que a implementação daquele instituto envolvia. Temos uma Ministra da Igualdade que não acredita nem defende a Igualdade…E, por fim, temos Calvão da Silva. O que dizer de Calvão da Silva?... O novo Ministro da Administração Interna – e não entrando em profundidade na questão do atestado de idoneidade que aquele passou a Ricardo Salgado (revirem-se os olhos à ironia…) – teve como primeira grande intervenção uma visita ao Algarve, na sequência de graves intempéries. Num discurso de bradar aos céus, o Ministro atribuiu as responsabilidades das cheias à “fúria demoníaca da Natureza”, dizendo que “Deus nem sempre é amigo” e que a vítima mortal “foi ter com Deus”. Longe vai o tempo em que a laicidade marcava o discurso político, em que Religião e Estado eram duas coisas diferentes…lá direito à sua religião tem o senhor Ministro. Mas ao menos não insulte tanto Estado como a Religião com afirmações estapafúrdias. Estou a ver que, se depender de Calvão da Silva e de Teresa Morais, daqui a pouco teremos, em Portugal, situações à laia de Kim Davis por terras do Tio Sam, em que se recusam licenças de casamento a casais do mesmo sexo, “porque a consciência derivada da Religião assim o proíbe”, sobrepondo-se à Lei criada pelos comuns mortais, num “simples” Parlamento. “Afasta de mim esse acre cálice constitucional e essa avinagrada esponja que é o Código Civil, ó Pai!”, dizem alguns! Mas que bom seria se os responsáveis políticos deste país soubessem trabalhar com coerência e não deixar as coisas…nas mãos de Deus. E se isto são sintomas do que será este Governo de Passos Coelho, começámos bem…mal. Por cá, entretanto, trabalha-se. Já foram entregues o Plano e Orçamento para 2016, o primeiro rondando os 780 milhões de euros, e o segundo 1.350 milhões de euros. Prevê-se reforçar o investimento público em todos os setores de atividade, repondo valores dos cortes salariais, tal permitido pelo equilíbrio das nossas contas públicas. Aumentar-se-á o investimento público em mais de 54 milhões de euros em relação a 2015, pretendendo-se reduzir a despesa pública. Aquando da entrega dos documentos na Assembleia Legislativa, Sérgio Ávila afirmou que se conseguiu que, no presente ano, as receitas próprias da Região fossem superiores ao valor orçamentado, e que as despesas de funcionamento da Administração Regional estivessem abaixo do que estava orçamentado, permitindo-se, desse modo, reforçar o investimento público em todas as ilhas da região e em todos os setores de atividade. Por cá, vê-se que os nossos governantes confiam no trabalho árduo. Lá fora, confia-se na Divina Providência…