Opinião

Desassossego

O Governo de Passos Coelho acabou por cair na Assembleia da República. Era expectável. Todas as movimentações indicavam para isso e a assinatura dos acordos entre o Partido Socialista e os restantes partidos de esquerda selaram o destino de um governo que se sabia condenado à partida, havendo apenas dúvidas sobre o momento do seu ocaso. O país não pode parar. É necessária, neste momento, uma decisão rápida por parte do Presidente da República, de forma a colocar em movimento as rodas dentadas da máquina do Estado. Um governo de gestão, apesar de ter bem definidas as suas competências, não garante a maleabilidade necessária no processo decisório, emperrando o dia-a-dia da governação. A Passos Coelho faltou-lhe paciência. Aliás, desde o dia das eleições que se revelou irrequieto, impaciente, instável. Ao negar a continuação de um processo negocial com o único partido que lhe poderia trazer algum tipo de estabilidade, deixou denotar precipitação. Ao ver cair o seu Governo, recusou de forma birrenta continuar em gestão. Mais tarde, fez finca-pé na exigência de uma revisão constitucional que lhe permitisse a existência de eleições antecipadas, como se a Constituição estivesse à sua disposição e pudesse ser alterada por mera pertinácia. Um verdadeiro caso de “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”. Paralelamente, quer se concorde ou discorde, a atuação do Partido Socialista é efetivamente legal. E tendo Passos Coelho se recusado a negociar com António Costa, seria de esperar que a História se desenrolasse assim. Manter um Governo periclitante numa Assembleia que não lhe garantia a mínima estabilidade nem paz na governação do país, teria certamente como desfecho o presente cenário. Neste momento Portugal precisa que se acabe de uma vez por todas com um folhetim que se recheou de episódios e incidentes que nada de positivo comportam. Isso é o essencial. Reside tudo, neste momento, nas mãos de Cavaco Silva. Seja qual for a sua decisão, deveria ser célere. Os portugueses não se podem compadecer com mais um impasse infindável. Numa nota final, hoje é impossível não falar no desassossego de um Mundo que acorda triste de dia para dia. É inevitável falar nos ataques do Estado Islâmico no Líbano e em Paris. Do Boko Haram na Nigéria. Da Al-Shabab no Quénia. É triste pensar que já a incredulidade se fragiliza face ao início da banalização das notícias que dão conta das mortes de centenas de pessoas à mercê de grupos extremistas. Não só o nosso modo de vida, mas também todos os princípios em que assenta a civilização ocidental estão sob ataque. Até os próprios princípios muçulmanos, que evoluíram da conceção medievalista adotada pelo Estado Islâmico para uma interpretação hodierna de tolerância, estão sob ataque. E se é verdade que a violência só gera violência, qual a resposta para se lidar com um radicalismo que não permite cedências, que não admite conversações? Como lidar com homens e mulheres que subverteram toda uma religião em nome de regras que só existem na sua própria interpretação da mesma? Haverá uma resposta universal para estas questões? Não há palavras que demonstrem o sentimento de tristeza que se acumula com cada ataque terrorista, com cada ato retaliatório. Por mais que queiramos dizer “Basta!”, o ciclo de violência está envolto na incerteza do quando e como irá acabar. Vivemos momentos de desassossego. Descansem em paz todos aqueles que de forma tão desumana pereceram às mãos da injustiça e da incompreensão. E tenhamos fé em dias melhores, de maior paz, fraternidade e compreensão.