Finalmente Cavaco Silva desfez o cisma. Tentou esticá-lo até ao máximo do imponderável. Ao ponto de já ninguém perceber as razões que o moviam, institucionalmente falando. Porque só se vislumbrava a política partidária. Até Passos Coelho lhe pediu que desse posse a Costa. Mas Cavaco manteve-se teimosamente no seu caminho. Ouviu todas as personalidades de que foi capaz de se lembrar, foi, entretanto, elogiar a banana da Madeira, e ainda solicitou mais uns esclarecimentos. Esticando os limites da razoabilidade e a paciência dos portugueses. Ontem deu posse ao novo governo socialista. O PCP e o BE estão dentro com um pezinho fora. E o PS terá de fazer o pleno. No governo e no Parlamento. A formação do novo governo alia personalidades de perfis diversos, dos pesos pesados partidários, com provas dadas, por vezes nas mesmas pastas, como é o caso de Vieira da Silva, a personalidades de reconhecida competência, mesmo que afastadas da contenda partidária, caso de Francisca van Dunem. O novo governo também já se apressou a avançar com o anúncio de medidas que aliviam o peso da excessiva austeridade dos últimos quatro anos. E só este anúncio já traz uma nesga de esperança aos portugueses fartos de um governo ultra-austeritário. Para o bolso dos portugueses. Para o empobrecimento do país. Para a fuga massiva de cérebros para o estrangeiro. Que se empenhou em extremar posições, e conduzir a direita ao limite mais extremo do liberalismo. Os portugueses anseiam por esta lufada de ar fresco. A Costa resta provar aos portugueses que sabe e pode fazer diferente. Que é capaz de perseguir o rigor financeiro sem esquecer a justiça social. E que é capaz de devolver algum desafogo aos portugueses sem comprometer os compromissos financeiros externos. Precisará de muita habilidade para passar sobre o fio-de-prumo erguido entre as exigências da realidade e o cumprimento do Tratado Orçamental.